“A Última Refeição” foi um teatro da Terra com cheirinhos de Mãe Coragem

“A Última Refeição” foi um teatro da Terra com cheirinhos de Mãe Coragem

“A Última Refeição” foi um teatro da Terra com cheirinhos de Mãe Coragem

Peça com a interpretação de Maria João Luís foi apresentada no Fórum Luísa Todi, em Setúbal

 

Esta peça contou com a brilhante interpretação de Maria João Luís, uma actriz que inspira pela sua maturidade e presença no palco, sendo sábia dos tempos, dos avanços, dos gritos, das mudanças das canções. Como muitas vezes em Brecht, lembro As Espingarda da Mãe Carrar, em que Carrar cria a consciência e constrói o enredo, enquanto prepara o pão. A tomada de consciência é quando o pão está pronto, como aqui, no momento em que o Frango na Púcara sai do forno.

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Um espectáculo cozinhado e feito com amor, tal como Helen Weigel cozinhou o “Frango na Púcara”, na esperança que Brecht regressasse ao mundo dos vivos. Weigel é uma mulher revoltada porque, apesar das traições do marido, agora que ele está morto, só o pode amar nas palavras.

Maria João Luís quebra os estereótipos do teatro e, elegantemente, vira várias vezes as costas ao público e cria silêncios que falam, com um texto brilhante de António Cabrita. Humildemente partilha com o público o anseio de ter honrado no palco, enquanto actriz, o nome de Bertholt Brecht, dramaturgo e encenador alemão, grande senhor do teatro que chamou o público ao centro da conversa. Ambos directores da grande Companhia de Teatro Berliner Ensemble (Berlim).

A actriz cria uma simbiose entre quatro cenários. Aquele em que sai algumas vezes de cena, e que não existe, onde está o fogão com a púcara a cozinhar o frango, o da bancada da cozinha onde o frango é confeccionado, o que pertence ao espaço do casal com Brecht no centro dentro do caixão e o da frente da bancada da cozinha sempre que a actriz conversa com o público no seu monólogo.

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Um grande momento neste palco surge quando a actriz recria, na arte do teatro, “O Grito” de Edvard Munch, versão em Bertolt Brecht do grito mudo, o grande grito das entranhas, que apesar de não ter som, faz tremer o mundo. O grito estridente que Helen Weigel solta silenciosamente com a boca aberta e os braços elevados em arco sobre a cabeça, porque ela também precisa de salvação. Aquele “Frango na Púcara” é cozinhado para os dois, pois para Brecht é a salvação da morte e para Weigel a salvação da ausência de Brecht.

A melhor actriz de Brecht em Portugal aos 57 anos segue todas as regras do Teatro Brechtiano. A canção resumindo a cena, o efeito V de distanciação, as quatro paredes incompletas que o encenador dirigiu muito bem. Bravo António Pires, normalmente encenador do Teatro do Bairro em Lisboa.

Sinopse

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“O espectáculo começa com música de piano de fundo (direcção musical de João Lucas) segundo o programa “Helena dispõe os in­gre­di­en­tes sobre a banca e deita mãos à obra: preparar uma última refeição para Bert. Escolheu fazer-lhe frango na púcara com temperos à Mãe Coragem. Assim começa este monólogo in­ter­pre­tado por Maria João Luís, escrito por António Cabrita e encenado por António Pires. Enquanto cozinha, Helena vai dis­cor­rendo sobre a sua vida com Bert: as grandes alegrias por par­ti­lha­rem de um trans­cen­dente sonho teatral e por se con­fi­a­rem in­con­di­ci­o­nal­mente no palco, numa sintonia que os levou ao êxito, e por outro lado o so­fri­mento com as traições con­ju­gais, o carácter de pinga-amor do Brecht e a sua noção alargada de “família”; a dureza da vida no exílio; o difícil regresso a Berlim e o seu papel de “mãe” para manter Bert no equi­lí­brio propício às suas ne­ces­si­da­des cri­a­ti­vas. Bert já está no caixão, mas ela ficou de res­pon­der à morte na manhã seguinte, para o subs­ti­tuir ou não, enquanto nesse caso, a Morte o res­sus­ci­ta­ria. Em de­ses­pero, resolveu fazer o prato que Bert mais gostava e que con­si­de­rava digno de res­sus­ci­tar um morto – talvez assim ela não precise sa­cri­fi­car-se, pensa”.

Ficha técnica e artística

Texto: António Cabrita; Encenação: António Pires; Com: Maria João Luís; Cenografia: José Manuel Castanheira; Composição e Direcção Musical: João Lucas; Desenho de Luz: Pedro Domingos; Produção executiva: Diana Especial; Assistência de produção: Filipe Gomes; Direcção de Produção: Pedro Domingos; Coprodução: Teatro da Terra, Casa das Artes de V. N. de Famalicão, Teatro Municipal de Bragança, São Luiz Teatro Municipal; Parceria: Câmara Municipal do Seixal; Estrutura Financiada por República Portuguesa – Cultura / Direcção-Geral das Artes; Apoio à Divulgação: Turismo de Lisboa; Duração aproximada: 80 min; Classificação etária: M/12

Observação de Teatro:

José Gil – Professor Adjunto de Teatro da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal Actor e Encenador

Maria Simas – Actriz do Teatro do Politécnico IPS e Mestranda

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