Pôr os setubalenses a pedalar quase todos os dias, é este o desafio lançado por Rafael Lopes e António Carvalho com o projecto “Setúbal de Bicicleta”. Naturais da cidade e adeptos dos pedais, mostram como o transporte de bicicleta é ecológico, económico, promotor da saúde e amigo do espaço urbano
“Setúbal tem óptimas condições para o uso diário da bicicleta. É uma cidade plana e em que as avenidas mais inclinadas não impedem o uso da bicicleta, tem boa iluminação, espaço para circular e as estradas, na maioria, estão em bom estado”.
Para António Carvalho, de 29 anos e que pedala regularmente em Setúbal há três, começam a estar reunidas as condições para os setubalenses poderem optar pela bicicleta em muitas das suas deslocações.
A mesma opinião tem Rafael Lopes, 24 anos, que sempre andou de bicicleta e hoje já dispensa o automóvel particular. “Uso por ser muito mais prático, não tenho de procurar lugar e pagar parquímetro e evito o stress do trânsito. Não preciso de carro para me deslocar no centro de Setúbal”, garante.
Há cada vez mais troços de ciclovias, mas aquela que tem sido uma aposta clara da Câmara Municipal de Setúbal na mobilidade sustentável tem de responder a “uma noção de rede”. “O executivo está a optar pelas zonas de maior movimento e por separar as bicicletas da estrada e essa é uma opção segura, mas as ciclovias têm de fazer sentido, caso contrário não oferecem utilidade ao ciclista e ficam vazias”, aponta António Carvalho.
E dá o exemplo do troço na Avenida da Europa: “A certo ponto deixa de existir, une-se com a passadeira e muitas vezes os carros param para nos deixar passar e ficam surpreendidos por continuarmos na estrada”. A inexistência ainda de pontos de estacionamento seguro para bicicletas é outra das falhas que lamentam na cidade.
Acessos seguros, sinalização e equipamento adequados e “uma boa dose de atitude defensiva” é a receita recomendada para circular em segurança no espaço público.
Rafael afirma sentir-se seguro durante as viagens que faz, regularmente, da zona onde mora até ao centro da cidade. “Ainda não tive problemas, mas sei que há automobilistas que vêem a bicicleta como um intruso e não se importam com quem vai no caminho. Mas eu sou optimista e acredito que cada vez mais pessoas começam a aceitar o uso da bicicleta”.
O objectivo do projecto “Setúbal de Bicicleta” é “incentivar a utilização da bicicleta como alternativa de transporte na região de Setúbal e partilhar informação sobre ciclismo urbano”. Na página, disponível no Facebook, divulgam-se vários conselhos sobre o que é preciso para pedalar de noite, à chuva e para guardar a bicicleta em segurança, por exemplo.
A verdade é que as condições meteorológicas adversas ainda são um argumento válido para muitos continuarem a utilizar o carro, mas face a isso, António apresenta logo uma solução: “usar roupas impermeáveis, que se podem vestir por cima da roupa normal”, tal como fazem os motociclistas.
Habituados a pedalar para todo o lado, faça chuva ou sol, estão os povos do norte da Europa. António Carvalho esteve em Edimburgo, capital da Escócia, e ficou “surpreendido” ao ver ciclistas, dos mais jovens aos reformados, a usar a bicicleta “para ir para a faculdade, ao cinema, para o trabalho ou às compras da mesma maneira que os portugueses saem de casa e pegam no carro”.
A mesma realidade testemunhou Rafael, enquanto visitou a Alemanha em contexto de Erasmus. Quando regressou, inspirado pelo ciclismo urbano, fez uma pesquisa no Facebook por setubalenses igualmente proactivos e encontrou António Carvalho, que havia feito o mesmo contacto por incentivo da MUBI – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta.
“Assim que vimos que estávamos os dois interessados em ciclismo urbano, começámos a falar e em Novembro criámos a página Setúbal de Bicicleta no Facebook”, revela António. Mostrando como a bicicleta é um meio de transporte económico, ecológico, amigo da saúde e promotor da qualidade do espaço urbano, desafiam todos os setubalenses a pedalar, nem que seja um pouco todos os dias.
Encontro de ciclismo urbano percorre 9 Km pela cidade
Está marcado o 1º Encontro de Ciclismo Urbano em Setúbal, com ponto de encontro na Praça do Bocage, às 15h, no próximo domingo, 22 de Janeiro, iniciativa do projecto “Setúbal de Bicicleta”.
O percurso (ver abaixo), de cerca de nove quilómetros, com baixa dificuldade e uma hora de duração, será feito pelas ciclovias existentes, estradas e vias de acesso, passando por vários pontos entre a Avenida Luísa Todi, Avenida 22 de Dezembro e Avenida Antero de Quental. Na rotunda que já tem a escultura “SETÚBAL”, próxima do Alegro, haverá uma paragem para fotografia de grupo, seguindo-se o regresso à baixa.
“A ideia é mostrar tanto aos automobilistas como aos potenciais ciclistas que todos podem circular casualmente em segurança e harmonia, respeitando as regras do Código da Estrada”, explicaram os mentores da iniciativa ao DIÁRIO DA REGIÃO. O convívio e troca de experiências entre participantes estão garantidos.