30 Junho 2024, Domingo

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28 de Maio em Setúbal: Os primeiros dias da Ditadura Militar numa cidade cansada

28 de Maio em Setúbal: Os primeiros dias da Ditadura Militar numa cidade cansada

28 de Maio em Setúbal: Os primeiros dias da Ditadura Militar numa cidade cansada

O Setubalense anuncia o movimento revolucionário chefiado pelo general Gomes da Costa|Luís Faria Trindade

Nos primeiros tempos dos 16 anos de republicanismo, a classe trabalhadora estava esgotada pelas longas lutas com as associações patronais

 

Os 16 anos do republicanismo foram vividos em Setúbal com um grande frenesim político e num ambiente de guerra social de alta intensidade. A veemência dos confrontos vai exaurir as forças que se digladiavam na arena social setubalense.

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O golpe será visto por uma parte da população com alguma apatia. Outra parte tê-lo-á visto como a possibilidade de um virar de página que devolveria alguma acalmia social.

Estávamos perante uma cidade cansada, com uma classe trabalhadora que havia conhecido o vigor e o domínio necessários para algumas vitórias e apresentava agora um superavit crescente de derrotas.

Luís Faria Trindade, director de
O Setubalense. Preso em Fevereiro
de 1927

Uma cidade que já tinha medido forças em braços de ferro intermináveis e não se reconhecia agora, fraca, esgotada com as associações patronais a cobrarem com juros as lutas anteriores. Nenhum destes estados de alma era extensivo aos militares setubalenses do Quartel do 11.

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Apesar de não estarem na lista inicial dos apoiantes do General Gomes da Costa, no dia 29 de maio, a guarnição militar de Setúbal, depois de uma reunião do conselho de oficiais, decide aderir ao movimento golpista desencadeado em Braga.

Um grupo de 40 oficiais promete o apoio ao novo poder político: “Declaramos sob nossa palavra de honra que nos encontramos desde este momento ao lado do movimento que se está desenvolvendo no País, convencidos de que tal movimento é genuinamente militar, não político e retintamente republicano, e tem por fim a moralização dos costumes e o engrandecimento da Pátria e República”.

O SETUBALENSE, nos primeiros dias a seguir ao 28 de Maio de 1926, vai mostrar-se compreensivo com os novos governantes, acalentando até algumas expectativas positivas sobre as virtualidades dos propósitos dos chefes militares que tinham conduzido a revolta. Vê o golpe militar “como uma oportunidade de resolver os problemas políticos do país fora da confusão dos partidos”.

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Apesar desta atitude de indulgência que O SETUBALENSE havia manifestado em relação aos golpistas, o jornal vai ser alvo da sua ação censória. Nos primeiros dias de fevereiro de 1927, estalava em Lisboa e no Porto a primeira grande tentativa de derrubar a Ditadura Militar.

Alguns sectores do reviralho setubalense juntam-se e organizam uma ação de apoio à insurreição reviralhista. página seguinte) e acusado de estar envolvido na revolta de 3-7 de fevereiro de 1927.

O jornal será suspenso e proibida a sua publicação por um período de seis meses. Não sabemos o grau de envolvimento que terá tido o diretor d’O SETUBALENSE nesta revolta. O que é conhecido é que até esta data o jornal havia tido uma linha editorial onde não se encontravam posições hostis à governação da Ditadura Militar.

De igual modo, as autoridades locais que representavam o governo de Lisboa, o Comandante Militar de Setúbal e o Administrador do Concelho não haviam sido hostilizadas. Por mais de uma vez, o jornal apoiou as suas tomadas de posição.

Também no fim do ano de 1926, quando as forças vivas da cidade se batem pela criação do Distrito, o jornal não se poupou a elogios ao Administrador do Concelho e ao conjunto da vereação que se tinha empenhado na criação da nova estrutura.

Porém, esta afetividade com o novo regime acabou por não ser correspondida. Apesar da pena pesada aplicada ao diretor, a suspensão do jornal acabou por ser menos brutal do que outras penas sofridas por jornais operários, que viram os seus principais colaboradores deportados para Angola ou para Timor e as respetivas sedes encerradas ou destruídas.

Depois do encerramento do diário O SETUBALENSE e com a censura à imprensa cada vez mais feroz, as vozes que destoavam do coro de apoio à nova governação nacionalista irão ser cada vez mais raras na cidade do Sado

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