Nos primeiros tempos dos 16 anos de republicanismo, a classe trabalhadora estava esgotada pelas longas lutas com as associações patronais
Os 16 anos do republicanismo foram vividos em Setúbal com um grande frenesim político e num ambiente de guerra social de alta intensidade. A veemência dos confrontos vai exaurir as forças que se digladiavam na arena social setubalense.
O golpe será visto por uma parte da população com alguma apatia. Outra parte tê-lo-á visto como a possibilidade de um virar de página que devolveria alguma acalmia social.
Estávamos perante uma cidade cansada, com uma classe trabalhadora que havia conhecido o vigor e o domínio necessários para algumas vitórias e apresentava agora um superavit crescente de derrotas.

O Setubalense. Preso em Fevereiro
de 1927
Uma cidade que já tinha medido forças em braços de ferro intermináveis e não se reconhecia agora, fraca, esgotada com as associações patronais a cobrarem com juros as lutas anteriores. Nenhum destes estados de alma era extensivo aos militares setubalenses do Quartel do 11.
Apesar de não estarem na lista inicial dos apoiantes do General Gomes da Costa, no dia 29 de maio, a guarnição militar de Setúbal, depois de uma reunião do conselho de oficiais, decide aderir ao movimento golpista desencadeado em Braga.
Um grupo de 40 oficiais promete o apoio ao novo poder político: “Declaramos sob nossa palavra de honra que nos encontramos desde este momento ao lado do movimento que se está desenvolvendo no País, convencidos de que tal movimento é genuinamente militar, não político e retintamente republicano, e tem por fim a moralização dos costumes e o engrandecimento da Pátria e República”.
O SETUBALENSE, nos primeiros dias a seguir ao 28 de Maio de 1926, vai mostrar-se compreensivo com os novos governantes, acalentando até algumas expectativas positivas sobre as virtualidades dos propósitos dos chefes militares que tinham conduzido a revolta. Vê o golpe militar “como uma oportunidade de resolver os problemas políticos do país fora da confusão dos partidos”.
Apesar desta atitude de indulgência que O SETUBALENSE havia manifestado em relação aos golpistas, o jornal vai ser alvo da sua ação censória. Nos primeiros dias de fevereiro de 1927, estalava em Lisboa e no Porto a primeira grande tentativa de derrubar a Ditadura Militar.
Alguns sectores do reviralho setubalense juntam-se e organizam uma ação de apoio à insurreição reviralhista. página seguinte) e acusado de estar envolvido na revolta de 3-7 de fevereiro de 1927.
O jornal será suspenso e proibida a sua publicação por um período de seis meses. Não sabemos o grau de envolvimento que terá tido o diretor d’O SETUBALENSE nesta revolta. O que é conhecido é que até esta data o jornal havia tido uma linha editorial onde não se encontravam posições hostis à governação da Ditadura Militar.
De igual modo, as autoridades locais que representavam o governo de Lisboa, o Comandante Militar de Setúbal e o Administrador do Concelho não haviam sido hostilizadas. Por mais de uma vez, o jornal apoiou as suas tomadas de posição.
Também no fim do ano de 1926, quando as forças vivas da cidade se batem pela criação do Distrito, o jornal não se poupou a elogios ao Administrador do Concelho e ao conjunto da vereação que se tinha empenhado na criação da nova estrutura.
Porém, esta afetividade com o novo regime acabou por não ser correspondida. Apesar da pena pesada aplicada ao diretor, a suspensão do jornal acabou por ser menos brutal do que outras penas sofridas por jornais operários, que viram os seus principais colaboradores deportados para Angola ou para Timor e as respetivas sedes encerradas ou destruídas.
Depois do encerramento do diário O SETUBALENSE e com a censura à imprensa cada vez mais feroz, as vozes que destoavam do coro de apoio à nova governação nacionalista irão ser cada vez mais raras na cidade do Sado