No descerramento da lápide na casa onde nasceu o artista, o então presidente da câmara recordou que Fernando Santos “se manteve um setubalense genuíno”
No âmbito do primeiro aniversário da morte de Fernando dos Santos (1892-1965), um dos maiores vultos da pintura sadina do século XX, a Câmara Municipal de Setúbal tomou a iniciativa de proceder a um conjunto de homenagens póstumas ao pintor, com o auxílio da Sociedade dos Escritores e Compositores Teatrais Portugueses e do Museu de Setúbal.
As cerimónias tiveram lugar no chuvoso dia 14 de Abril de 1966, iniciando, pelas 18h00, com uma missa pela alma de Fernando Santos na Igreja de Santa Maria da Graça, conduzida pelo Prior José Gonçalves.
Junto ao n.º 15 do Largo de Santa Maria – então denominado Praça do Exército – foi descerrada uma lápide evocativa do local de nascimento do pintor e escritor teatral.
Na placa – que foi paga pelos cofres da Sociedade dos Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, que a ofereceu à cidade de Setúbal – ficaram eternizadas as seguintes palavras: “Nesta casa nasceu em 14 de Julho de 1892 o ilustre pintor e escritor teatral Fernando Santos – Homenagem da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses – 14 de Abril de 1966”.
Na presença das autoridades oficiais (Governador Civil de Setúbal, Dr. Miguel Rodrigues Bastos; presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Dr. Constantino Goes; presidente da Sociedade dos Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, Dr. José Galhardo; director do Museu de Setúbal, Eng.º João Moniz Borba; presidente da Comissão Distrital de Setúbal da União Nacional, Dr. Seabra Carqueijeiro; entre outras), de familiares, amigos e populares, a viúva do homenageado, Alda Machado Santos, ficou encarregue pelo descerrar formal da placa em causa.
Para além do discurso de José Galhardo, que recordou o trabalho que realizou conjuntamente com o pintor setubalense em prol do teatro nacional, o edil em funções também tomou a palavra, destacando-se do seu discurso: “A todos que passarem por este Largo [de Sta. Maria], de tão típicas características setubalenses, a lápide que se descerrou há momentos recordará que Fernando Santos, que se manteve sempre um setubalense genuíno […] que tanto lutou pela elevação do nível cultural de Setúbal, que participou sempre em todos os acontecimentos importantes que nesta terra se produziram durante a sua vida, recordará, dizia, que foi esta a casa onde nasceu tão ilustre setubalense. […] Setúbal, reconhecida, vai hoje pagar uma dívida de gratidão…” (“Homenagem póstuma ao pintor setubalense Fernando Santos” in O Distrito de Setúbal, n.º 1159 de 19/04/1966, p. 1).
A comitiva dirigiu-se, posteriormente, ao bairro da Estrada dos Arcos, recentemente construído e ainda sem nomes de ruas definidas, para perpetuar Fernando Santos na toponímia local. Uma vez mais, Alda Machado Santos descerrou a lápide de homenagem ao marido.
Sob a coordenação da direção do Museu de Setúbal e patrocinada pelo município, às 21h15, foi inaugurada a “Exposição Retrospectiva da obra de Fernando Santos”, composta por 48 trabalhos do autor premiado por telas como ‘Bocage as Musas’, ‘Quem fica saudades tem’ ou ‘Ciganito do Cravo’.
De acordo com O Distrito de Setúbal – que notificou que algumas telas foram doadas por testamento ao município -, esta exposição se ficou “a dever à muita dedicação do conservador sr. Eng.º João Borba e de sua Esposa”. (“Homenagem póstuma a Fernando Santos in O Distrito de Setúbal, n.º 1159 de 19/04/1966, p. 3).
No respectivo catálogo, o pintor e professor Armando Lucena sublinhou que “no tablado da pintura que tanto amou, cumpriu uma digna carreira que bem justifica a homenagem póstuma que a sua terra, de maneira geral, agora, lhe presta” (Museu de Setúbal, Exposição Retrospectiva da obra de Fernando Santos, Bertrand (Irmãos), Lisboa, 1966).
As cerimónias culminaram, pelas 22h00, no salão nobre dos Paços do Concelho. O grupo cénico Ribalta, composto por Maria Clementina, Fernando Guerreiro, Carlos Rodrigues ou Rogério Severino e dirigido por Carlos Ferreira, representou o 1.º acto da peça Prémio Nobel, escrita em parceria por Fernando Santos, Leitão de Barros e Almeida Amaral, para o Teatro D. Maria II, em 1955.
O escritor e dramaturgo, Dr. Luís de Oliveira Guimarães, proferiu uma palestra em torno da obra escrita de Fernando Santos, lembrando, por exemplo, que a primeira peça do autor setubalense foi redigida quando este tinha apenas 15 anos: A Gancho para apresentação pública no antigo Teatro Almeida Garrett, no Bairro de S. Domingos.
Por motivos imprevistos, o pintor Lima de Freitas não teve possibilidade de proferir a sua conferência em torno da produção artística de Fernando Santos neste dia, ficando agendada uma visita comentada à exposição retrospectiva para o dia 21 de Abril seguinte.
Historiador, GABPHC/Câmara Municipal de Setúbal HTC/NOVA/FCSH
Fontes:
Imprensa periódica “Homenagem a Fernando dos Santos” in O Distrito de Setúbal, n.º 1158 de 12/04/1966, p. 1.