27 Abril 2024, Sábado
- PUB -
InícioSociedadeTeatro Estúdio Fontenova leva a palco “Caim ou a divina cegueira” a...

Teatro Estúdio Fontenova leva a palco “Caim ou a divina cegueira” a partir da obra de Saramago

Entre amanhã e dia 20, a peça integra as comemorações do centenário do Nobel de Literatura

 

- PUB -

Neste mês de Novembro, o Teatro Estúdio Fontenova (TEF) leva a história de “Caim”, da autoria de José Saramago, a palco pela primeira vez em Portugal, num espectáculo a estrear no Fórum Municipal Luísa Todi.

“Caim ou a divina cegueira” surge, de acordo com Graziela Dias, da equipa TEF e uma das actrizes, “da vontade expressa da Câmara de Setúbal em que houvesse na cidade umas comemorações bastante fortes à volta da figura e da obra de Saramago”.

“E que neste sentido fizéssemos algo, tal como outras companhias. Isso despertou em nós vontade de fazer e por isso aceitámos”, explicou. Foi, para a equipa, “um desafio pegar na obra do prémio Nobel e tem sido um processo desafiante, mas apaixonante”.

- PUB -

“Fomos arrojados no sentido de o fazer com um olhar contemporâneo. Este é um ‘Caim’ dos nossos dias”, continua. Segundo a co-criadora, estão “a tratar questões muito complicadas, sensíveis e fracturantes, como a religião, e, não querendo ferir susceptibilidades”, têm “de meter o dedo na ferida e questionar”.

“Para o TEF o teatro tem sido sempre isso. A arte tem para nós esse papel, que não é meramente de entretenimento. Tem de levantar questões, tem de nos fazer pensar e reflectir. Temos de mudar e transformar”.

Na sinopse do espectáculo, pode ler-se que, em “Caim”, Saramago “dá-se à liberdade de narrar, a seu bel-prazer, episódios do Antigo Testamento, sublinhando o perfil menos recomendável do Deus bíblico ancestral”.

- PUB -

“Caim, o primeiro dos assassinos, adquire protagonismo num diálogo directo com Deus, em doses copiosas de ironia e sarcasmo, com que Saramago os retrata, munidos de todas as imperfeições da humana natureza”.

Ao fazer ‘nascer’ este espectáculo, a companhia de teatro homenageia “esta figura maior da criação literária” e diz ser “conveniente não cair na tentação de considerar este Deus uma criação humana ou sequer reforçar a narrativa do uso do nome de Deus para justificar jogos bélicos, ávidos de poder, de onde o divino se ausentou para parte incerta”.

Para José Maria Dias, responsável pela encenação e dramaturgia do espectáculo, esta última a par de Armando Nascimento Rosa, “fazer Saramago logo por si é questionador da sociedade e da presença do homem, da humanidade na terra e das relações”.

“Esta encenação, moderna e contemporânea, é minha, mas é uma criação colectiva. Todos têm dado o seu contributo”, frisou.

“[No processo] tentámos sempre ser o mais fiel possível ao romance. Demos-lhe a nossa visão, a nossa roupagem, e fizemo-lo, de certo modo, de uma forma irónica porque o próprio texto é muito irónico, embora fale de coisas muito sérias”, acrescentou.

Chegar a este resultado foi, pela sua experiência, “muito difícil”. “Comecei a trabalhar em três obras ao mesmo tempo, ‘O ensaio sobre a cegueira’, ‘O ensaio sobre a lucidez’ e ‘Caim’, para as misturar porque casam muito bem. Por várias razões, eu e o Armando Nascimento Rosa acabámos por nos centrar apenas no ‘Caim’ e acredito que conseguimos um bom trabalho ao nível do texto e da dramaturgia”.

Também a nível artístico, diz estarem “a construí-lo”. “Acho que estamos a ir por um bom caminho. As pessoas estão a divertir-se e esperamos que o público também vá gostar. Sabemos que é uma coisa polémica e vai haver quem goste muito e quem deteste”.

Livro que serviu de base será apresentado na Culsete

Este trabalho, que levou a “horas de debate” sobre o livro, o autor, a política, a religião e a fé, assim como a “ponderações inadiáveis” sobre o cartaz, a sinopse, o cenário, os figurinos, a música e a interpretação, pretende levantar igualmente diversas questões junto do público.

“Nunca tínhamos feito Saramago e o texto, como todos os bons textos, levanta muitas questões, mais pessoais ou mais colectivas, políticas, filosóficas e também sobre religião, espiritualidade, hegemonia cultural, diferenças de poder, entre outras”, sublinha Tomás Barão, responsável pelo design de comunicação e produção executiva.

“Tudo isso levou-nos a discussões que não conseguimos de todo evitar antes de nos lançarmos ao palco”, salientou.

“Tal como Deus e Caim, a única coisa que sabemos é que continuamos a discutir e que a discutir estaremos ainda até ao fim dos tempos. Hoje, pensar é um acto revolucionário. Pensemos!”, diz a equipa TEF.

Além das sessões, marcadas para os dias 11, 12, 15, 16, 17, 18 e 19 do presente mês, pelas 21 horas, 13 e 20, às 16 horas, e espectáculo para escolas no dia 14, pelas 15 horas, no Fórum Municipal Luísa Todi, este trabalho será também apresentado num livro com o mesmo nome, que serviu de base para o espectáculo.

A 12, às 16 horas, a livraria Culsete recebe este momento, com uma conversa com o elenco, o encenador José Maria Dias e o dramaturgo Armando Nascimento Rosa.

A co-criação e interpretação está a cargo de Clara Passarinho, Fábio Vaz, Graziela Dias, João Mota, Patrícia Paixão, Sara Túbio Costa, Tiago Bôto e Wagner Borges, com assistência e encenação de Rosa Dias, cenografia de José Manuel Castanheira, desenho de luz de José Maria Dias e Rosa Dias.

O apoio ao movimento é da responsabilidade de Iolanda Rodrigues, os figurinos de Maria Luís e a música de Jorge Salgueiro. A sonoplastia está entregue a Emídio Buchinho, a fotografia é de Helena Tomás e o vídeo integral e o teaser contam com assinatura de Bere Cruz.

- PUB -

Mais populares

Cavalos soltam-se e provocam a morte de participante na Romaria entre Moita e Viana do Alentejo [corrigida]

Vítima ainda foi transportada no helicóptero do INEM, mas acabou por não resistir aos ferimentos sofridos na cabeça

Árvore da Liberdade nasce no Largo José Afonso para evocar 50 anos de Abril

Peça de Ricardo Crista tem tronco de aço corten, seis metros de altura e cerca de uma tonelada e meia de peso

Homem de 48 anos morre enquanto trabalhava em Praias do Sado

Trabalhador da Transgrua estava a reparar um telhado na empresa Ascenzo Agro quando caiu de uma altura de 12 metros
- PUB -