‘Aeroporto de Beja devia ser aproveitado ao invés de se construir qualquer outro’

‘Aeroporto de Beja devia ser aproveitado ao invés de se construir qualquer outro’

‘Aeroporto de Beja devia ser aproveitado ao invés de se construir qualquer outro’

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Além de considerar que a instalação do equipamento deveria sempre ser submetida a uma avaliação ambiental estratégica, a candidata reitera a posição do partido: a melhor solução passa por Beja e pelo investimento nas ligações, em ferrovia ou rodoviárias. Terceira travessia sobre o Tejo também não seduz. Praia para cães, rede de cuidados para animais e liberalização do uso de cannabis são propostas defendidas

 

Cristina Rodrigues explica a recandidatura como cabeça-de-lista pelo círculo de Setúbal, depois de ter concorrido nas últimas Autárquicas, em 2017, a Sintra. O objectivo do PAN, diz, é eleger dois deputados – o partido está representado no hemiciclo por um, André Silva. A aposta mais forte recai nos distritos de Lisboa e Porto. Mas Setúbal vem logo atrás e Cristina Rodrigues acredita que poderá ser eleita.
Destaca a importância do papel que a oposição pode ter na governação, para justificar a afirmação de André Silva, que assumiu que este não é o momento para o PAN estar no Governo. Opõe-se a um novo aeroporto no Montijo ou no Campo de Tiro de Alcochete e lembra que o partido defende que até 2035 todas as capitais de distrito estejam ligadas por ferrovia.

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Foi cabeça-de-lista por Setúbal nas Legislativas de 2015. Nas últimas Autárquicas encabeçou a lista do PAN mas por Sintra e agora volta a ser a número um do partido pelo distrito sadino. Porquê Sintra nas Autárquicas e de novo Setúbal para as Legislativas?
É simples. Nas Autárquicas, no distrito de Setúbal tínhamos várias pessoas com o perfil adequado para poderem encabeçar listas por diversos municípios, tanto que tivemos aqui vários eleitos municipais. Em Sintra não tínhamos ninguém que pudesse assumir esse papel. Uma vez que aquele é o segundo maior município do país em termos de população achámos muito importante haver uma candidatura lá e acabei por ser eu.

À partida para estas Legislativas, o PAN aposta na eleição de quantos deputados? Setúbal é um dos círculos onde depositam maiores expectativas?
Temos três distritos onde há uma possibilidade acrescida de podermos eleger um deputado: Lisboa, Porto e Setúbal. São os três distritos onde temos registado maior votação. O que temos veiculado é que o objectivo passa pela eleição de dois deputados, mas eu gosto de ser um pouco mais ambiciosa e digo que o ideal seria elegermos, pelo menos, três.

Essa é também uma razão que a leva a ser cabeça-de-lista por Setúbal?
Sim, é uma das razões. Mas também tem a ver com o trabalho que foi feito há quatro anos e com o desejo de querer dar seguimento ao que já iniciámos.

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Nas Legislativas de 2015, o PAN atingiu a fasquia dos 75 mil votos. Há dois anos, nas Autárquicas não chegou aos 56 mil, embora no que toca ao distrito de Setúbal até tenha crescido pouco mais de 440 votos, contando com 8.609 votantes. Nas Europeias deste ano, passou para os 168.501 votos, registando 17.051 neste distrito. Qual o patamar a que agora aspiram?
É conseguirmos alcançar um resultado que permita ter um grupo parlamentar. Estivemos quatro anos com um único deputado, o que implica várias limitações regimentais, nomeadamente em relação ao número de agendamentos por ano, ao tempo para falar no plenário… são muitas condicionantes. Um grupo parlamentar abre outro tipo de possibilidades e quantos mais formos mais hipóteses temos de aprovar as nossas iniciativas.

Como é que o eleitorado pode confiar num partido que se apresenta a votos mas que ainda não acredita ter condições para estar no Governo, segundo declarações do deputado André Silva?
Temos de ver que a oposição tem um papel fundamental na governação, independentemente de fazer parte do Governo. Mesmo o PAN, nestes últimos quatro anos e só com um deputado, acho que teve um papel muito importante. Se compararmos os programas eleitorais de há quatro anos com os actuais, vemos que a temática do ambiente ou da protecção animal era praticamente inexistente e hoje diria que todos os partidos abordam essas questões, menos o PCP que não tem nada no seu programa sobre o assunto. Possivelmente porque depois terá o PEV em coligação. Isto significa que sendo ou não Governo há um contributo muito relevante para dar.

Mas como acha que o eleitorado reagirá a esta situação? Não acha que quem vota pode pensar: estão a candidatar-se, mas assumem, por eles próprios, que não têm capacidade para poder sustentar um governo, até através de uma geringonça, por exemplo?
Geringonça? Temos dito que estamos disponíveis para dialogar seja com quem for. Neste momento parece-nos prematuro avançar com qualquer outro tipo de [cenário]…

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… E seria mais fácil dialogar à esquerda ou à direita?
É igual. Temos tido sempre essa política de diálogo, seja com quem for. Somos muito a favor de conseguir consensos. Portanto, sendo à esquerda ou à direita…

A proposta para criação de praias para cães contempla algumas no distrito?
O que temos no programa é que sejam criados espaços em zonas, que não referimos se são ou não concessionadas, onde seja autorizada a presença dos animais. Não se pretende que todas as praias admitam cães, porque também não queremos impor isso a ninguém. A proposta é a nível nacional.

Mas passará sempre pelo distrito, abrangendo pelo menos uma praia na região?
Acho que é essencial. Mas ainda não discutimos os locais.

Qual seria o melhor local no distrito, na sua opinião?
Acho que seria positivo haver alguma nas praias da Costa de Caparica e outra depois mais na zona de Setúbal ou de Sesimbra.

Quando o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não apresenta a necessária capacidade de resposta para as pessoas, defender um serviço de saúde para animais (cães e gatos) – que terá sempre um custo subjacente – não é estar a colocar os animais à frente das pessoas?
A nossa proposta não é a de criar um serviço nacional de saúde para os animais mas sim uma rede de cuidados para animais, que seja pública mas que não implique necessariamente a criação de infra-estruturas. Podem aproveitar-se os centros de recolha oficial, alguns têm já condições para esse efeito, como é o caso de Setúbal ou até mesmo de Almada. Depois outros tipos de serviços que possam ser prestados por clínicas veterinárias já existentes, através de protocolos. A ideia é criar uma rede, e não um serviço nacional de saúde à semelhança do que acontece com as pessoas. A ideia não é construir hospitais mas sim uma rede de cuidados.

Faz sentido investir primeiro numa rede de cuidados para animais?
Não dizemos que é primeiro. Temos também outras propostas para haver investimento no SNS para as pessoas. Há duas coisas fundamentais: uma tem a ver com a circunstância de que ajudar animais que pertençam a pessoas com dificuldades económicas é não só ajudar os animais mas também essas pessoas. Sabemos que essas pessoas têm gosto pelos animais, que querem tratá-los como deve ser, o que às vezes até é uma fonte de preocupação e angústia, levando em alguns casos essas pessoas a entregarem os animais em centros de recolha oficial ou associações. Esse é um tipo de situação que gostaríamos de evitar, contribuindo para que isso deixe de acontecer. A outra questão tem a ver com a saúde dos animais relacionada também com a saúde humana. O bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários diz que se trata apenas de uma saúde e portanto quando se trata da saúde dos animais é saúde pública e, nessa medida, há aqui também um contributo nesse âmbito.

Em termos de investimento, têm algum cálculo de quanto poderá custar implantar essa medida?
Não.

Quais são as principais propostas que defende para o distrito de Setúbal?
Uma das questões essenciais que apresentamos no nosso programa eleitoral tem a ver com a prioridade que damos às políticas de ambiente. No distrito existem várias questões muito concretas que nos preocupam, sejam as dragagens no Sado, a construção do aeroporto no Montijo, os problemas da alegada poluição da Siderurgia Nacional [no concelho do Seixal], a questão da agricultura com recurso às estufas na parte mais a sul. Estes são temas prioritários, mas também é muito importante para nós a questão da mobilidade – tivemos um avanço significativo com a redução do valor dos passes mas tem de haver uma aposta na melhoria da qualidade dos serviços. A ligação dos transportes dentro do próprio distrito não é a melhor.

É a favor ou contra a localização do aeroporto no Montijo?
O PAN defende que para se avançar com o projecto nesta zona tem de haver, necessariamente, a avaliação ambiental estratégica. Até agora, o Governo recusa-se a avançar com essa avaliação. Defendemos que devia haver a suspensão do projecto, não se avançar de forma alguma, até que houvesse o resultado dessa avaliação. Depois, do nosso ponto de vista, deveria ser aproveitado o aeroporto de Beja, melhorar as ligações, seja a ferrovia ou as rodoviárias, a essa infra-estrutura, e não se fazer qualquer aeroporto na zona do Montijo.

E no Campo de Tiro de Alcochete?
Não. Defendemos o aproveitamento do aeroporto de Beja.

E quanto à terceira travessia sobre o Tejo para o Barreiro?
Não abordamos essa questão no programa, mas o que pretendemos, e aquilo que acho que é melhor para a qualidade de vida das pessoas tanto da zona norte como da zona sul, é evitar deslocações de carro. Diria que, para já, não seríamos favoráveis a essa terceira ponte sobre o Tejo.

Que leitura faz das dragagens no Sado?
É outro problema. Do que tive conhecimento do próprio processo, há ali uma série de irregularidades. Acreditamos que vai ter um impacte muito grande na biodiversidade, em relação aos golfinhos e também a outros animais. Terá um impacte significativo nas actividades piscatórias na zona. Segundo o relatório económico, a criação de postos de trabalhos que julgam que irá originar é de cerca de 40 postos adicionais, o que nem sequer é número significativo face aos impactes negativos que poderá ter. Terá também impacte negativo no turismo e, pelo PAN, não se fariam as dragagens no Sado.

Qual seria a solução?
Achamos que deve ser utilizado o Porto de Sines, que não necessita de qualquer obra. Não há necessidade de fazer esta intervenção no Porto de Setúbal, até porque o Porto de Sines também precisa de algum reforço no desenvolvimento da zona, melhorar algumas vias rodoviárias e considerando sempre a ferrovia.

A ferrovia é prioritária para o PAN.
Sim. O que propomos é que até 2035, julgo, todas as capitais de distrito estejam ligadas por ferrovia e tentar-se que o transporte de mercadorias por ferrovia seja prioritário. E que deixe de passar por Lisboa, para passar mais à volta.

O que têm os consumidores e a sociedade, em geral, a ganhar com a legalização do uso de cannabis para fins recreativos, como defende o PAN?
Acreditamos que existe o direito de as pessoas poderem escolher e ter determinados hábitos que lhes dêem prazer e que não sejam socialmente demasiado graves. Do ponto de vista social, o álcool pode ter efeitos mais nefastos do que o consumo de cannabis. Esta liberalização mostrou noutros países que a percentagem de crimes relacionados com o tráfico decresceu bastante. Por outro lado há um maior controlo das substâncias que são vendidas e por isso apresenta maior segurança para o consumidor.

É consumidora ou já consumiu cannabis?
Não. Não consumo, nem fumo tabaco nem bebo café.

 

Campanha nas redes sociais e sem oferta de brindes

Nas Europeias deste ano, o PAN apresentou um orçamento para a campanha eleitoral na casa dos 80 mil euros. Para as Legislativas que se aproximam, o montante será maior. “É cerca de 136 mil euros, um orçamento comedido”, considera Cristina Rodrigues. “Não podemos gastar levianamente”, afirma de seguida. A campanha do PAN será, segundo a cabeça-de-lista por Setúbal, substancialmente diferente das dos restantes partidos, sobretudo dos que estão representados no parlamento.

“Vamos apostar muito na campanha digital, nas redes sociais. Temos alguns outdoors, não temos muitos. Não é como a maioria dos partidos que os têm por todo o lado. Vamos fazer distribuição de ‘flyers’ em papel reciclado e com tintas biodegradáveis. Não vamos oferecer brindes, por uma questão de sustentabilidade, para não estarmos a oferecer coisas que as pessoas acabam por não utilizar nem precisar”, explica, adiantando a concluir: “Vamos também tentar que as nossas deslocações [de campanha] sejam feitas em transportes públicos e não vamos gastar dinheiro em grandes comícios.”

 

Fotos: ARSÉNIO FRANCO

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