Ainda estou a escrever com as mãos trémulas, com a camada de nervos que apanhei, ao seguir a evolução do resultado do Vitória com o Chaves e ao longo de todo o campeonato.
As minhas filhas olharam-me com a habitual sobranceria. Embora vitorianas desde que nasceram, fizeram os comentários do género: “Outra vez aflito? Já devias estar habituado” “Chegas a estas alturas e é sempre um stress”. “Deixa lá, que eles acabam sempre por se safar. É o costume!”
Felizmente ganhámos.
E, de facto, desde há 20 anos para cá, é (quase) sempre o costume. Sofre-se até ao fim e muitas vezes até à última jornada.
O que me leva às questões de fundo. Quais as causas e como podemos melhorar?
Por um lado, o clima de permanente instabilidade directiva. Os que chegam acusam os antecessores de má gestão, mas depois não conseguem fazer melhor.
Por outro lado, a dívida enorme, que tem vindo sempre a aumentar.
Depois o estádio; antes, o Estádio do Bonfim era uma referência. Hoje está velho, antiquado, sem condições. Necessitamos de um estádio mais pequeno, mas mais moderno e funcional. Em vez disso, temos um estádio que progressivamente nos começa a envergonhar, isto se compararmos com os restantes estádios dos clubes que compõem a 1ª Liga.
O que me leva à questão de fundo; o modelo de gestão que se pretende mais eficaz para o Vitória Futebol Clube.
Penso que a existência de futuros potenciais investidores, se me afigura ser o único caminho possível.
Contudo, para haver interesse por parte do mundo empresarial, o Vitória tem de estar estabilizado e aí podem-se abrir oportunidades. Setúbal é uma região naturalmente apetecível, com uma excelente localização, atracção turística e a paixão dos adeptos, no fundo tudo aquilo que interessa aos investidores. Uma potencial força motriz muito forte, que pode e deve ser aproveitada.
Mesmo que algum investidor, que se pretende absolutamente credível, ficar com mais de cinquenta por cento da SAD, existem mecanismos operativos e funcionais transparentes que assegurem um bem-estar financeiro e desportivo do clube.
Exemplo desses não faltam. Praticamente todos os clubes internacionais enveredaram por esse caminho. Estádios cheios. Clubes competitivos.
Veja-se a Liga Inglesa, com os tais modelos de gestão. A presença de quatro equipas inglesas nas finais europeias, não é obra do acaso.
A nível nacional, temos quase todos os clubes da 1ª Liga nesses domínios, sendo um dos casos de sucesso, o Guimarães, que cedeu 60% da sua SAD. Estádio sempre cheio. 49 pontos. Presença na Liga Europa.
Se olharmos para a geografia desportiva e se considerarmos os clubes a 1ª Liga que se situam a norte do Rio Douro, ficamos esclarecidos: Porto, Boavista, Braga, Guimarães, Moreirense, Aves, Paços de Ferreira, Rio Ave, Famalicão, Gil Vicente. Falta ainda saber se Chaves ou Tondela.
Pelos menos, 10 (!!!) clubes. Mais de metade da 1ª Liga, numa área geográfica muito pequena, mas economicamente competitiva.
Se considerarmos quais são os clubes da 1ª Liga que se situam a sul do Rio Tejo, ficamos também esclarecidos: Vitória e Portimonense. Somente dois.
No Alentejo, nem um. Uma tristeza.
Claro que o tipo de opções políticas (e consequentemente as económicas) que se fazem, nomeadamente a nível local, não é coincidência. Sem se entender que o futebol pode ser uma mola impulsionadora, contribuindo também para o desenvolvimento da região.
Mais grave que tudo; com a nossa permanente e proverbial instabilidade, o Vitória Futebol Clube torna-se um alvo.
Um alvo a abater.