O Vitória é o querer dos vitorianos e setubalenses e essa substância, que é o património mais importante, não pode ser aprisionada por qualquer massa falida
O Tribunal de Setúbal decidiu o que já temíamos há muitos anos; a declaração de insolvência. Após esta decisão, o processo, em que os credores têm a faca e o queijo não mão, pode terminar com a falência definitiva e a respectiva liquidação, que significa a venda de todos os bens de que o clube e a SAD ainda sejam titulares.
Claro que ainda há a esperança de que os credores possam aceitar os planos de recuperação que o clube e a SAD já disseram que vão apresentar e, evidentemente, essa possibilidade deve ser agarrada com unhas e dentes. A SAD e, principalmente, o clube devem trabalhar para os planos de recuperação com afinco, procurando acrescentar propostas e garantias que vão para além do que consta nos PER. Quem sabe se, nos próximos 50 dias, aparece uma solução que ajude a melhorar, pelo menos um pouco, a situação, como, por exemplo, um Mourinho que decida que agora é que chegou mesmo a hora de salvar o Vitória.
No entanto, além da aposta forte numa última solução de recuperação, é essencial que o Vitória possa ter, também, um plano B. Há muito que esse plano deveria existir mas agora é mais urgente do que nunca.
Ainda mais grave do que a falência definitiva do Vitória é não sermos capazes, enquanto sócios, adeptos, cidade e região, de manter viva a alma vitoriana e de dar continuidade a um património colectivo que é muito mais do que uma pessoa jurídica.
O Vitória é, sobretudo, o querer dos vitorianos e setubalenses e essa substância, que é o património mais importante, não pode ser aprisionada por qualquer massa falida. Se os credores quiserem matar o Vitória FC, teremos de ter um plano que possa lidar com isso. Se forem acautelados aspectos estruturantes, como as condições de usufruto do estádio (de que o município detém o direito de superfície) e de outras instalações desportivas, garantidas as condições mínimas para as modalidades poderem continuar as suas actividades e preparados os procedimentos para as formalidades de criação de um novo clube, o Vitória pode continuar. Mesmo contra a vontade de alguns credores, o Vitória pode continuar vivo, nos nossos corações e na prática desportiva de tantas crianças e adultos.
O Farense foi declarado insolvente, renasceu com um nome que embora novo manteve toda a identidade, e hoje já está novamente na I Liga. Para os de Faro e para todo o País, é o mesmo Farense.
Um exemplo que pode ser importante para o Vitória. Mas, para isso, o trabalho de casa tem de ser feito enquanto é tempo e com competência.
Ainda duas notas que consideramos devidas:
Apesar do risco de um desfecho terrível, o trabalho dos responsáveis pelo clube nos últimos três anos deve ser reconhecido. O que Carlos Silva e os restantes membros dos órgãos sociais, no actual e no anterior mandato, mostraram foi um imenso amor ao clube, na forma de uma dedicação sem limites. De forma idêntica, ao investidor Hugo Pinto, todos os vitorianos devem, também, a sua gratidão. É evidente que já não pode mais, mas meteu mais de 5 milhões na instituição, sem garantias e, ao que parece, sem retorno. Quem mais faria isso?
Esta situação que o Vitória vive mostra bem que o mais importante, nestas condições, não são os resultados desportivos. Primeiro tem de tratar-se do clube, os resultados virão depois. É também (ou até sobretudo) pela irracionalidade dos muitos que não conseguem ver isto que o Vitória chegou até aqui.