A esmagadora maioria dos portugueses sente na pele o elevado custo de vida. E só quem anda muito distraído, pertence à minoria privilegiada, ou por insensibilidade, ainda não se apercebeu de que tantos compatriotas nossos, têm já um nível de vida abaixo do limiar da pobreza.
E muitos dos que têm problemas de saúde, tantas vezes, têm de optar entre a compra de medicamentos, ou de uma alimentação minimamente equilibrada.
Mas depois assistimos a esta contradição imoral, que é a acumulação de escandalosos lucros dos principais grupos donos das grandes superfícies comerciais, como o da Jerónimo Martins/Pingo Doce, a Sonae/Continente e outros.
Por exemplo, este último, quase os duplicou. E não é com assistências mais ou menos caritativas, como o Banco Alimentar Contra a Fome, que se minimizam de uma forma significativa, ou muito menos se corrigem tais injustiças e carências gritantes.
O PCP apresentou recentemente uma proposta na Assembleia da República que visava controlar o preço do cabaz alimentar, travando as consequências mais graves da especulação e dos brutais aumentos de preços.
Pois bem, PS, PSD, IL e Chega rejeitaram-na. Portanto, todos unidos contra o povo e a favor dos referidos grupos que enchem a carteira enquanto o povo aperta o cinto. Mas como se sabe, igual se passou quando o mesmo partido propôs a taxação dos lucros extraordinários dos sectores da energia, dos combustíveis, da banca e dos seguros.
E também as propostas para redução das comissões bancárias, a criação de uma rede pública de creches, o aumento do salário mínimo, das reformas e das pensões. O PS e o PSD, depois de décadas a alternarem-se no poder, já são topados de ginjeira.
Por isso, há cada vez mais gente desiludida, os níveis de abstenção sobem consecutivamente, e isso também não convém à minoria privilegiada. Aos donos disto tudo. De maneira que há que mudar qualquer coisa para que tudo fique na mesma ou pior um pouco. Então socorrem-se de novos partidos.
Por exemplo, da rapaziada modernaça, engravatada e liberal, e dos outros, melhor, do outro, o do partido unipessoal, o comediante que para além de se atirar aos imigrantes e aos ciganos, atira-se também aos “casos e casinhos” do Governo/PS, enche a boca contra a corrupção, pede a demissão de ministros e do próprio Governo, grita que é uma vergonha, mas já reparam o que é que propõe em benefício do povo? Zero!
Portanto, Iniciativa Liberal e Chega, são as novas versões da direita. Mais refinados os primeiros, mais trauliteiros os do senhor Ventura. São os novos agentes, de quem já cá anda há séculos e sabe-a toda.
Os donos disto tudo. Mas, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não, se não eles comem mesmo tudo e não deixam nada, como diziam o Alegre e o Zeca.
E se insistirmos, seremos mais e como previu Saramago e tão bem canta Manuel Freire; Mas quando nos julgarem bem seguros / Cercados de bastões e fortalezas / Hão-de cair em estrondo os altos muros / E chegará o dia das surpresas.