Uma biografia diferente de Charles de Gaulle

Uma biografia diferente de Charles de Gaulle

Uma biografia diferente de Charles de Gaulle

, Professor
30 Agosto 2021, Segunda-feira
Giovanni Licciardello - Professor

Hoje vou contar-vos uma história com a qual me cruzei meramente por acaso, durante as minhas leituras estivais, sobre a biografia do General Charles de Gaulle.

De Gaulle foi uma das principais figuras que se opôs à invasão da França pela Alemanha nazi, efectuando um famoso discurso, em 1940, onde exortava os franceses a oporem-se, firme e ferozmente, aos alemães. A partir dessa data, e do referido discurso, deu-se início à Resistência francesa que culminaria com a libertação da França em 1944 e com a consequente derrota alemã em 1945.

- PUB -

O que é menos sabido é que de Gaulle tinha uma filha, Anne, nascida em 1928 e que sofria de Síndrome de Down, também conhecido como Trissomia 21, sendo um dos mais severos, em virtude de caminhar com muita dificuldade.

Contrariamente ao procedimento habitual da época, em que eram enviados para institutos psiquiátricos sem atenção, sem amor, escondidos, trancados e até às vezes amarrados como animais, com a família de Gaulle ocorreu precisamente o oposto.

Yvonne e Charles de Gaulle não encaravam Anne como uma vergonha ou um empecilho, tendo-lhe sempre proporcionado um ambiente inclusivo e afectuoso.

- PUB -

Esse amor incondicional transformou-a no centro da família de Gaulle. Charles dizia que era “a sua alegria ” e que ” ela ajudou-o a ver para além das falhas dos homens “.

Charles e Yvonne criaram um ambiente familiar equitativo, onde os três filhos se sentissem amados e aceites. Eles insistiam que Anne viajasse sempre com eles, nas diversas deslocações. O general cantava músicas e lia-lhe histórias, demonstrando um afecto e ternura que ele realmente não mostrou a muitos membros da sua família. A principal regra da família era que eles nunca deveriam menorizar Anne sentir menos ou diferente do que qualquer outra pessoa.

O general tinha uma grande devoção pela sua filha, e assim o contava o capelão militar que tratou De Gaulle, do qual foi bastante íntimo e confidente: ” Para mim, Anne tem sido uma óptima prova, mas também uma bênção. É a minha alegria e ajudou-me muito a superar todos os obstáculos e todos os constrangimentos. Graças a Anne eu fui mais longe, consegui superar-me “.

- PUB -

Em Fevereiro de 1948, somente com 20 anos, Anne faleceu decorrente de uma pneumonia, o que provocou em toda a família um enorme desgosto e dor, como podemos facilmente imaginar.

A perda da nossa menina, nossa menina sem esperança, trouxe-nos uma imensa dor. Sem Anne, talvez eu nunca pudesse ter feito o que fiz. Ela deu-me o coração e a inspiração “.

Em 1962, 14 anos após a morte de Anne, Charles de Gaulle foi vítima de uma tentativa de assassinato. Ele declarou depois que a bala que poderia ter sido fatal tinha sido detida pela moldura da fotografia da Anne, que sempre trazia consigo.

Ao morrer em 1970, o general foi enterrado no cemitério ao lado da sua amada filha. Sua mãe Yvonne, juntou-se-lhes em 1979.

Parece que uma as poucas palavras que Anne conseguiu pronunciar claramente na sua curta vida foi “Pai”.

De Gaulle e sua esposa Yvonne fundaram a Fundação Anne de Gaulle, que acompanha meninas com patologias semelhantes à da sua filha Anne.

O homem que foi Presidente da República de França, a sua mulher e filha, a pequena Anne, dão-nos uma admirável lição de afecto, de amor, de inclusão, de humanidade.

Nestes tempos actuais, onde nos pretendem obrigar a encarar e interpretar a História somente a preto-e-branco, esta é uma história deveras inspiradora.

Partilhe esta notícia
- PUB -

Notícias Relacionadas

- PUB -
- PUB -