Raramente escrevo sobre futebol. Não é que não goste da modalidade. Como tantos, desde miúdo que comecei a praticá-lo. Primeiro, com bolas de trapos. Depois de borracha, e mais tarde, com bolas a sério.
No único clube federado que o fiz, foi no Coruchense. Mas apenas participando nos treinos dos principiantes. Para grande desgosto meu, não pude continuar. Trabalhava e morava longe e os meus pais não estavam nada para aí virados. Era o tempo em que os “homens nunca foram meninos”. Começava-se a trabalhar logo que se saía da Escola Primária. Depois, até para sair dessa dura vida e conhecer mundo, fui voluntário para a Marinha (a melhor coisa que fiz na vida. A pior, foi de lá ter saído) onde estive seis anos e oito meses. Claro que continuei a jogar nas equipas das diversas unidades por onde passei. Depois, mesmo a par da minha condição de trabalhador-estudante, alinhei em equipas de futebol de onze e de salão do Banco Espírito Santo da agência de Almada e da sede em Lisboa. E em diversas equipas populares aqui da minha zona. Era benfiquista. Ainda sou, mas já com pouco entusiasmo.
Era defesa direito. Às vezes, médio. Cheguei a ser acusado de sarrafeiro, mas ia sempre à bola e não ao homem… Uma vez, se calhar, as duas coisas. Num jogo entre a equipa da Escola de Máquinas e da Escola de Abastecimentos (escriturários) do Grupo n.º1 de Escolas da Armada, grandes rivais, no campo do Vila-franquense, o meu camarada Ismael, extremo esquerdo, vinha lançado, fui ao corte com determinação, o Ismael espalhou-se, caiu mal, e para desânimo geral, partiu um braço. Mas, acalmados os ânimos, apesar do Ismael ficar com o braço ao peito, nada de rancores. Ficámos ainda mais amigos para toda a vida.
O futebol, assim como o desporto em geral, pode ser uma escola de virtudes, mas tornou-se um negócio chorudo para meia dúzia, motivo para protagonismos e fator de alienação de massas. Desde o tempo da ditadura.
Mas não foi apenas para dizer isto e ainda menos para contar a minha sofrível “carreira” futebolística, que decidi escrever hoje sobre o assunto. Foi para dizer que apesar de benfiquista, embora distante, o Sporting venceu este campeonato com todo o mérito. Parabéns aos meus amigos e a todos os simpatizantes leoninos. Principalmente ao seu treinador. Apesar de ainda relativamente jovem (39 anos), Rúben Amorim, é já um exemplo. Um grande senhor do futebol. Não só pela capacidade técnica, mas, sobretudo, pela sua postura social. Despretensioso, inteligente e afável. Ao contrário, por exemplo, dos seus colegas dos dois grandes rivais. Um, irascível e quezilento. O outro, frio e até nada cativante não só para os benfiquistas como para todos nós, portugueses. Está cá ao tempo que está, e nem uma palavra em português se digna pronunciar. E, apesar do plantel de que dispõe, acontecessem tristezas como a de Famalicão. Além de táticas duvidosas, não há ali incentivo de garra, tão necessário no futebol.
Portanto, parabéns ao Sporting! Parabéns a Rúben Amorim!