Sem prejuízo de uma análise mais detalhada que é necessário fazer sobre os resultados eleitorais, podemos, desde já, sublinhar 3 notas importantes que decorrem de uma apreciação mais ligeira e global.
A maioria absoluta do PS, tão ambicionada por António Costa, vem confirmar aquilo que Os Verdes tinham vindo a denunciar desde a não aprovação do OE.
De facto, ficou agora e definitivamente claro, que estas eleições resultaram da estratégia do PS, com a cumplicidade do PR, de provocar eleições antecipadas e utilizar o truque da vitimização como meio para tentar uma maioria absoluta que libertasse o PS de negociar OE à esquerda e lhe permitisse fazer opções políticas sozinho, exclusivamente à sua moda.
Seria, no entanto, sensato e exigível que a estratégia do PS fosse assumida perante os portugueses e sobretudo com as forças políticas que, com o PS procuravam caminhos de convergência para termos Orçamento, dispensando até, as demoradas reuniões com o Governo, e dando provas de uma postura de transparência e seriedade nas “negociações”.
Ainda assim, ser autor e esconder a estratégia é uma coisa, outra bem diferente e menos aceitável, para não dizer mais, é o PS, procurar responsabilizar os outros pelo desfecho que em surdina foi tecendo.
A segunda nota diz respeito ao crescimento do populismo e da extrema-direita, e sobre esta matéria, podemos dar as voltas que se entender, mas a verdade é que, quanto menos respostas aos problemas das pessoas forem dadas, tanto maior será o potencial crescimento dessas forças políticas. A este propósito é oportuno recordar as inúmeras vezes que o PS se juntou à direita para chumbar propostas, nomeadamente sobre o aumento geral dos salários e do SMN ou sobre a revogação da “lei dos despejos”, sobre o reforço do investimento nos serviços públicos ou sobre o regresso dos CTT à esfera pública.
A última nota tem a ver com a quebra eleitoral das forças políticas à esquerda do PS. Uma quebra a que não é alheio o esforço do PS em responsabilizar essas forças políticas pelo desfecho do OE, mas também a bipolarização que foi construída, artificialmente, como se viu, com o propósito de beneficiar o PS e o PSD.
A CDU, um exemplo de convergência democrática e que trouxe para o debate as propostas e soluções para os problemas das pessoas, as matérias que realmente interessam na vida dos portugueses, sai destas eleições com perdas significativas.
Da parte dos Verdes, que perdem a sua representação parlamentar, uma importante frente de confronto político, mas que não perdem a determinação e a vontade em continuar a lutar pelos valores que cultivamos, cá estaremos, cá continuaremos a lutar nas outras frentes de intervenção.
O compromisso dos Verdes é continuar a lutar por mais justiça social, mais equilíbrio ambiental, pela qualidade dos serviços públicos, pela estabilização do clima e pelo combate às alterações climáticas, mas também para insistir na necessidade de trazer o interesse público para o centro das decisões políticas, seja ao nível da localização do aeroporto de Lisboa, seja na exploração desenfreada de lítio, seja em qualquer outra matéria.