De acordo com Bento de Jesus Caraça, ilustre matemático nascido a 18 de abril de 1901, em Vila Viçosa, cabe ao professor contribuir para desenvolver nos alunos as mais diversas qualidades, tanto no domínio intelectual, como físico, artístico, moral e ético, preparando-os, assim, para uma intervenção ativa e consciente na sociedade.
E é exatamente isto que, apesar das condições de trabalho com que se confrontam diariamente, os professores, com o seu esforço, dedicação, empenho e, por vezes (muitas vezes), sacrifício pessoal, têm vindo a fazer.
Porém, até ao momento, não conseguiram ouvir da parte dos nossos governantes, um simples obrigado. Pelo contrário, numa tentativa de branquear os falhanços das políticas educativas, continuamos a assistir à desvalorização social dos professores e, não raras vezes, a ataques à classe docente, desferidos por alguns profissionais da política que estão à frente do Ministério da Educação, e que mais não revelam do que um profundo desconhecimento da dinâmica das escolas e da nobre missão do professor.
Em novembro de 2021, dados de um estudo encomendado pelo Governo à Universidade Nova SBE, revelaram que, até 2030, 40% dos professores iriam reformar-se. Significa isto, que será necessário recrutar mais de 3000 docentes por ano letivo, tarefa difícil, já que a carreira docente tornou-se pouco atrativa. De facto, continuamos perante:
- Condições de trabalho pouco favoráveis (elevado número de alunos por turma, escolas degradadas, falta de recursos humanos e materiais, …);
- Uma formação de professores que ainda está longe de responder às necessidades da escola atual;
- Uma componente letiva reduzida às aulas;
- Uma perversão da componente não letiva, o que impõem aos professores um número de horas semanais de trabalho muito acima das legalmente previstas;
- Milhares de docentes que todos os anos, com vínculo laboral precário, satisfazem necessidades permanentes das escolas;
- Uma estrutura salarial pouco atraente;
- Dificuldades na progressão na carreira;
- Um regime de aposentação que não respeita a especificidade do trabalho docente.
E isto não é de agora. Verifica-se há décadas, Governo, após Governo!
Teve início ontem o 3º período do ano letivo 2021/2022, mas milhares de alunos continuam ainda sem professores a todas as disciplinas, sobretudo os que frequentam estabelecimentos de ensino dos distritos de Setúbal e Lisboa, em que o elevado custo do alojamento impede o preenchimento de vagas com horários incompletos por candidatos que não residam nestas regiões.
Vivemos tempos difíceis.
Com a pandemia de Covid-19, a seca, a guerra na Ucrânia, o aumento dos preços de produtos essenciais e a subida dos juros, poderemos estar perto de atingir os momentos mais difíceis desta geração.
Todavia, este conjunto de fatores adversos não pode ser desculpa para um desinvestimento em Educação, um dos pilares fundamentais da nossa sociedade.
Hoje, mais do que nunca, exige-se que a escola prepare os seus alunos para uma sociedade global e digital, que os capacite com conhecimentos, atitudes e valores, para que sejam capazes de enfrentar o futuro, mas nenhuma máquina, por mais perfeita que seja, pode substituir o professor.
A presença humana do professor é insubstituível!
Urge dignificar a classe docente, condição necessária para uma Escola Pública pautada por uma educação de qualidade para todos!