Tempo

Tempo

13 Fevereiro 2018, Terça-feira

O leitor acabou de ler o título e esta frase. Passaram 5 segundos. Nesses 5 segundos 5600 toneladas de combustíveis-fósseis foram emanados para a atmosfera, cerca de 17000 barris de petróleo foram refinados e 55 árvores da floresta tropical da Amazónia foram cortadas.

Agora passaram 15 segundos. Tempo suficiente para uma partícula de luz dar 112 voltas à circunferência da Terra e tempo suficiente para o nosso planeta percorrer mais 450 quilómetros no seu trajeto à volta do sol. Em 15 segundos, algures um beija-flor bateu as suas asas 1200 vezes para voar, um hamster pulsou o seu enérgico coração 113 vezes e uma baleia-azul apenas uma vez.

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O relógio cronometra agora 30 segundos, meio-minuto. Até este instante foram trocados 72 milhões de e-mails e o Google respondeu a quase 1 milhão e meio de perguntas. A Apple vendeu 284 iPhones, a McDonald’s 2250 hambúrguers e a Coca-Cola 600 milhares de porções das suas bebidas. Efemeridades da vida que nos fazem esquecer que foram os últimos 30 segundos de 53 pessoas em todo o mundo, 10 das quais eram crianças e, pelo menos três, sucumbiram à subnutrição.

Nem todos têm comida mas há comida para todos. A humanidade acabou de armazenar mais 700 metros cúbicos de trigo, rotulou 285 vacas para matança, pescou 1 milhão de peixes em alto-mar e todos os aviários do mundo renderam, em conjunto, mais de 65000 ovos de galinha. Tudo em 30 segundos.

Em breve chegaremos a um minuto, irrisória quantia temporal. Todavia, o sol não precisa de mais para evaporar mil milhões de litros de água dos oceanos, quase tanto quanto a União Europeia consome num ano inteiro. Nestes mesmos 60 segundos, a Terra foi atingida por 6000 relâmpagos e um volume de chuva, equivalente a 4700 milhões de banheiras, caiu sobre o chão.

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O leitor olha para o seu corpo e apercebe-se que nada mudou mas num minuto perdeu 96 milhões de células e outras tantas foram geradas para as substituir. Por todo o mundo, cerca de 148 milhões de fetos desenvolvem os seus cérebros, fabricando, a um alucinante ritmo, 250 milhares de neurónios por minuto. Prontamente, juntar-se-ão aos 258 bebés que nasceram no último minuto e assimilam os seus primeiros instantes um mundo completamente novo.

Mal damos conta e acumula-se uma hora. Numa volta completa do ponteiro, o nosso corpo produzirá calor suficiente para levar 4 litros de água à fervura, o nosso sangue viajará 11 milhões de quilómetros pelas nossas artérias, inalaremos 960 lufadas de ar e os nossos corações contarão 4200 pulsações.

Pelo término das próximas 24 horas, o cabelo do leitor terá crescido perto de 0,35 milímetros, mais de 150 espécies diferentes de animais ou plantas tornar-se-ão extintos por danos ambientais e a Terra será abalada por 1370 sismos.

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Daqui por muitos anos tudo será diferente, mas não o tempo. Indiferente à nossa existência, continuará a anexar anos aos que já nos antecedem. 13 mil milhões tem o Universo, o nosso planeta 4500 milhões e a mais antiga forma de vida data de há 3700 milhões de anos. Números descomedidos cuja magnitude dificilmente nos faz sentido. Foi apenas há meros 12 mil anos que se deu a revolução agrária e o início das primeiras civilizações. As grandes pirâmides do Egipto ergueram-se orgulhosamente 4500 anos no passado mas ainda antes, numa floresta remota, brotara uma semente da qual hoje resulta a mais antiga árvore viva, com 5067 anos.

É inútil cismar algo tão fugaz e abstrato como o tempo. Apenas nos é concedido uma modesta porção deste na nossa vida, façamos o melhor que podemos dele.

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