Teatro-pintura de Susana Dagaf contra a violência doméstica é um êxito a não perder

Teatro-pintura de Susana Dagaf contra a violência doméstica é um êxito a não perder

Teatro-pintura de Susana Dagaf contra a violência doméstica é um êxito a não perder

12 Julho 2022, Terça-feira

“Eu confio em você, não confio é neles”. PqP é um soco no estômago dos agressores. Em cena até domingo, na Sala do TAS

 

Fomos ao Teatro de Animação de Setúbal (TAS) num dia de 42º de calor com um público jovem muito curioso. Foi uma tarde maravilhosa na cidade que se transforma na capital do teatro sempre que chega o Verão.

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Em breve vamos ter mais espectáculos e em Agosto o Festival Internacional de Teatro.

Puta que Pariu! (PQP), um grito silencioso por todas as mulheres e homens vítimas de violência, é uma criação da actriz e encenadora Susana Dagaf que impressiona pela verdade e pela nudez com que mostra a violência doméstica sobre a mulher, está em exibição no TAS até domingo, dia 17.

Nas marcações e nos tempos, uma referência ao teatro dança de Pina Baus com Maria Volker na magnifica banda sonora de entrada: “Você é o seu próprio lar”. Envolve o público no espaço cénico, na paisagem do palco, um quadro vivo de uma natureza estática e conservadora, que começa com pequenas frases: “Eu confio em você, não confio é neles”.

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Um bonito jogo de luzes, uma excelente operação de som e uma encenação que mostra as sombras da vergonha e do medo, o jardim e as promessas, a prisão da tortura, as flores, os murros, a sociedade patriarcal, o papel da mulher.

A lembrar Paula Rego num momento em que tanto se fala da maior pintora portuguesa deste século.

No elenco, a actriz Júlia Prado e as actrizes convidadas Ana Isabel Delgado, Miká Nunes e Viviana Moura, numa interpretação brilhante, retratam o isolamento, o desespero, a desorientação, o grito – aquele grito – da mulher que tem a culpa do seu destino, e dão vida à fuga, ao corpo caído, ao corpo inerte, aos fragmentos daquele corpo, às outras personagens de corres terra e rosa.

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De salientar a beleza vocal de Miká Nunes numa das cenas centrais.

Na plateia sente-se o medo, o terror, a humilhação, o desespero, a violência bárbara e sem arrependimento, a dignidade perdida inerente ao ser humano.

Dagaf, que inclui no seu trabalho o pintar da cena, na feroz violência, harmonizar o ambiente estético, mostra o seu perfil como autora e encenadora. Talvez Dali e o surrealismo, mas com calma e simplicidade, como se fosse desenho neorrealista. Um teatro-pintura. Os vestidos e os casacos do cenário registam também essa plasticidade.

Um teatro belo, minimal, uma conexão artística já com solidez.

Uma mulher conta, como uma voz-off, diversas situações e cenas cruéis de violência. “Em cena encontramo-nos frente a frente com uma mulher encurralada. Uma mulher presa numa relação abusiva. Uma mulher que foi durante anos violentada pelo grande amor da sua vida.”

Fala-se do pulso partido, do maxilar que nunca mais volta ao sítio, fala-se dos hematomas, dos ombros partidos contra o chão.

 

 

 

*Professor de Teatro da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal

**Actriz do Teatro Politécnico de Setúbal, Mestranda

joseamilcarcapinhagil@gmail.com

 

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