Gosto de futebol. Sou, visceralmente, contra as teias tenebrosas que tecem o futebol profissional. Sempre discordei da criação das SAD por, em muitos casos, ser perversa a relação destas com os seus clubes e com o Estado. Em Portugal, é um dos setores onde, impunemente, grassa a corrupção. Não compreendo a benevolência com que se aceita o pagamento de salários milionários aos profissionais do futebol.
Abomino os gastos supérfluos e escandalosos feitos por grande parte de profissionais ligados a modalidades desportivas, quando a maior parte da população mundial não consegue viver com o mínimo de dignidade. A dificuldade em reagir, publicamente, por parte de políticos, magistrados, líderes religiosos, fazedores de opinião, contra tanta imoralidade, é incontornável por ser batalha perdida. Como não há ninguém totalmente bom ou mau, também neste mundo desportivo nem toda a gente é, intrinsecamente, malcomportada ou isenta de pecados. Infelizmente, como acontece na sociedade em geral, atacam-se, com muita facilidade as culpas dos mais fracos e desculpam-se os crimes dos poderosos. É isso que está a acontecer ao Vitória Futebol Clube (VFC).
Não gosto de justificar os meus erros com os dos outros. Prefiro seguir os bons exemplos. Todavia, não posso deixar de perguntar se será só o VFC que está em incumprimento com os compromissos devidos à Segurança Social e ao Fisco? Não conta, como fator atenuante dos incumprimentos, os esforços comprovados para a progressiva solvência de dívidas como é o caso, segundo me dizem, dos atuais dirigentes do Clube e da própria Câmara Municipal ao ceder património para ser rentabilizado a favor do pagamento de um determinado montante devido às finanças? Todos ficaríamos a ganhar se fosse feita uma auditoria externa e com garantias de total transparência à Liga Portuguesa de Futebol. Desafio os dirigentes de todos os clubes a exigirem isso à sua Liga.
Não sei se o VFC descerá à 3.ª Divisão do campeonato de futebol. Quando esta crónica for publicada já se saberá, por estar realizado o sorteio. Dizem-me juristas conhecedores da situação do clube sadino que, em tribunal, tudo se resolverá em favor do Vitória. Dada a incompreensível morosidade da Justiça em Portugal, essa decisão só chegará, no mínimo, daqui a alguns anos como aconteceu com outros clubes.
Saibam os setubalenses que a despromoção da modalidade do futebol do nosso Vitória acarreta um conjunto de consequências nefastas para o desenvolvimento integral e sustentável, pelo menos, do Concelho de Setúbal. Perde-se um dos símbolos mais significativos da identidade sadina. As modalidades amadoras, com muito prestígio, ligadas ao nosso clube desaparecerão. Centenas e centenas de crianças e jovens deixarão de ter acesso à prática do desporto, prejudicando a sua socialização e, para algumas, a melhoria da sua qualidade de vida. Perde-se um ponto focal de ocupação útil de tempos livres. Setúbal vai empobrecer.
Caras cidadãs e caros cidadãos, mesmo os que têm o Vitória como segundo clube de sua estimação e quem não tenha nenhum, lutemos por salvar o VFC. É em ocasiões como esta que se vê quem ama a sua terra. Não fiquem indiferentes a quaisquer iniciativas que venham, salutarmente, a ser tomadas. Ao salvarem o nosso clube estão a contribuir para o progresso do nosso lindo e sempre promissor concelho de Setúbal.