A Feira de Sant’Iago, um dos eventos mais emblemáticos de Setúbal, tem sido tema de debate contínuo há mais de três décadas. Desde a relocação para as Manteigadas em 2004, o debate sobre a sua localização reacende-se cada vez que se aproxima um ciclo eleitoral autárquico. Recentemente, surgiram propostas para a feira retornar ao centro da cidade ou para outras áreas, mas essas alternativas enfrentam desafios consideráveis.
Antes de 2004, a Avenida Luísa Todi revelou-se inadequada para a realização da feira devido a limitações de espaço, problemas de circulação e estacionamento e ao impacto negativo sobre o comércio local. A mudança para as Manteigadas visou resolver essas questões, oferecendo uma infraestrutura mais apropriada e condições de segurança adequadas para um evento de grande envergadura, na sequência, aliás, do Plano Estratégico do POLIS elaborado ainda na gestão do presidente Mata Cáceres, do PS.
As propostas atuais para deslocar a feira para o centro da cidade ou para zonas ribeirinhas apresentam vários obstáculos. As transformações urbanísticas na Avenida Luísa Todi, bem como nas zonas ribeirinhas, ou até na zona da Várzea, um espaço destinado a servir de bacia de retenção de águas pluviais, tornaram-nas impróprias para a realização da feira, com a escala que tem hoje. Adaptar essas áreas para a feira exigiria custos elevados e comprometeria o funcionamento de negócios locais. Além disso, a manutenção e limpeza após o evento seriam desafiadoras, especialmente considerando a quantidade de lixo normal de eventos como este.
O centro da cidade (ou mesmo a zona da Várzea, junto aos bairros das Amoreiras e do Liceu), área já congestionada e dinâmica, especialmente durante a época balnear e de maior fluxo de turistas e visitantes, poderia enfrentar problemas ainda maiores com a instalação da feira. O aumento do trânsito e a escassez de estacionamento afetariam a mobilidade dos residentes e a operação do comércio local. A pressão adicional sobre o transporte público e a necessidade de novas infraestruturas seriam desafios significativos.
Por outro lado, as Manteigadas têm-se mostrado uma localização eficaz. A área foi adaptada para suportar grandes eventos, minimizando impactos negativos e oferecendo uma infraestrutura adequada. A feira continua a atrair um público significativo e a oferecer uma diversidade de atrações que atendem a várias preferências. Manter a feira nas Manteigadas também contribui para um desenvolvimento mais equilibrado da cidade, permitindo que outras áreas se beneficiem economicamente e evitando a sobrecarga do centro.
O debate sobre a localização da feira muitas vezes é partidarizado e exacerbado por oportunismo eleitoral.
Disso é exemplo o artigo publicado no Jornal O Setubalense, em 24 de julho, pela Dra. Ana José Carvalho, a quem, reconhecendo-se capacidade e competência, estranha-se a alteração de posição sobre o tema, visto que esta antiga dirigente municipal defendeu a localização atual e até contribuiu para a afirmação desta solução. Assim, face às incoerências e à falta de clareza de uma proposta alternativa, questionam-se motivações e compromissos partidários, pelos vistos mais determinados em repor o passado do que em projetar o futuro.
Manter a feira nas Manteigadas é hoje a opção mais sensata, garantindo a continuidade do evento com os seus impactos negativos minimizados, respeitando o desenvolvimento equilibrado da cidade e projetando este evento para o futuro.
A discussão deve focar-se em soluções que beneficiem a comunidade como um todo, em vez de se perder em debates que apenas servem para aproveitamentos partidários com a apresentação de propostas inviáveis de regresso ao passado. O atual executivo, juntamente com os trabalhadores que fazem a feira acontecer, merecem respeito pelo seu empenho em manter e melhorar este evento significativo para Setúbal, que continua a ser uma festa de referência no país.
Aos Setubalenses continua a ser possível escolher entre o regresso ao passado e avançar rumo ao futuro.
