Recursos Minerais e Arrábida

Recursos Minerais e Arrábida

Recursos Minerais e Arrábida

31 Maio 2024, Sexta-feira
Carlos A. Cupeto -Escola de Ciências e Tecnologia

A história da humanidade confunde-se com o acesso e usufruto de matérias-primas minerais e assim continuará a ser, qualquer que seja o modelo de desenvolvimento considerado. Obviamente que na península de Setúbal, e tudo à volta, também assim é. A transição energética, a ecológica, a digitalização, só são possíveis com uma crescente metal-intensive economy. Negar a necessidade de exploração de recursos minerais é rejeitar a Humanidade na Terra. É incontornável, todos os caminhos orientados para uma economia circular, eco-eficiente e de baixa intensidade carbónica concorrem para aumentar a dependência de um largo número de metais cuja procura global não poderá ser totalmente satisfeita com base em fontes secundárias; isto é, o consumo crescerá a um ritmo muito superior ao do abastecimento proporcionado pela reutilização, reciclagem e/ou substituição. É bom que o saibamos e que tomemos em mão o nosso próprio destino, pois o atual contexto de incerteza ainda mais nos exige que assim seja. Como sabemos, a distribuição de recursos geológicos obedece apenas à contingência geológica. O futuro do país exige uma mensagem de esperança que deve prevalecer na maioria moral e política da equação da suficiência energética e alimentar onde os recursos minerais são incontornáveis.

Assim, Portugal tem de decidir claramente se em matéria de recursos minerais quer verdade ou hipocrisia? Lamentavelmente, o país deixa-se conduzir por fazedores de opinião que vivem da oportunidade da desinformação e ignorância. No geral, em matéria de recursos minerais, temos uma classe dirigente e política incapaz, condicionada pelo calendário eleitoral, e ambientalistas oportunistas. A partir daqui o resultado está à vista; decisões inevitáveis são contornadas e adiadas.

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Temos de saber, com verdade, que uma mina ou pedreira que atualmente inicie atividade nada tem a ver com o passado histórico do setor; está sujeita às melhores práticas sustentáveis disponíveis e a uma rigorosa monitorização, é assim em Portugal e na Europa. É inaceitável que se trate o setor em Portugal como se assim não fosse. Esta realidade não tem correspondência em largas geografias do planeta – África, américa latina, Ásia… Ao não explorarmos os nossos recursos minerais e os importarmos, sob as mais variadas formas (materiais de construção, automóveis, telemóveis, peças para bicicletas, etc.) somos coniventes com vários e graves crimes, designadamente morais, como sejam o trabalho infantil, a escravatura e o crime ambiental, que, como todos sabemos, são comuns nesta atividade por esse mundo fora.

Uma das principais razões, há outras, que impedem o aproveitamento de recursos minerais em Portugal é a falta de acesso a esses recursos em sede de ordenamento do território. Ou seja, os recursos minerais só podem ser explorados nos locais em que se encontram, mas o ordenamento do território em vigor impede que nesses locais se desenvolvam atividades extrativas, daqui decorrendo apreciações negativas no âmbito da avaliação de impacte ambiental; para satisfação de ambientalistas e populações manipuladas. Na verdade o programa Nacional da Política do Ordenamento do Território (PNPOT), com quase 20 anos, atualizado em 2019 pela Lei nº 99, tem em atenção a importância dos recursos minerais para a sociedade e propõe, na Medida 1.5, “planear e gerir de forma integrada os recursos geológicos e mineiros”, onde consta: “… o mapeamento do potencial em recursos geológicos permitirá uma melhor ponderação dos interesses e valores em presença no território, com a elaboração do plano sectorial dos recursos minerais no âmbito do Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial …”. Até à data nada se concretizou e de acordo com a lei, a Direção Geral de Energia e Geologia e o Laboratório Nacional de Energia e Geologia tinham até maio de 2023 para apresentar a Estratégia Nacional dos Recursos Geológicos. Nada se sabe se vai haver algum maio em que isto aconteça, muito dificilmente assim será. Mesmo que haja vontade política para o fazer, desde há muito que a entidade pública com competência e vocação para o fazer – o Laboratório Nacional de Energia e Geologia – tem sido esvaziada de meios humanos e materiais que lhe permitam responder às necessidades do país em termos do reconhecimento dos recursos minerais disponíveis no território, o que se configura como uma questão de soberania nacional. A somar a isto, ao contrário do que se apregoa, a Descentralização é um mito, há muito que as Direções Regionais de Economia, que incluíam a energia e a geologia, foram extintas e não passam hoje de Divisões da Direção Geral, desprovidas de todas as competências e meios que deviam ter.

É assim que se trata tão importante tema em Portugal.

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