Em 1971, no sorteio realizado para a Taça UEFA, o Vitória Futebol Clube coube-lhe defrontar o Spartak de Moscovo, da antiga União Soviética (URSS).
Este sorteio colocou imediatamente problemas políticos, em virtude do regime fascista do Estado Novo, de Portugal e o regime comunista da URSS não terem relações diplomáticas.
Os extremos tocam-se sempre. Faces opostas da mesma moeda
Seja como for, o Vitória Futebol Clube ficou definitivamente na história do futebol português, em virtude de ter sido a primeira equipa a defrontar uma formação da URSS.
No dia 20 de Outubro de 1971, a imprensa portuguesa dava destaque ao acontecimento: “A primeira equipa de futebol portuguesa a pisar um relvado soviético!”
Era o Vitória. Em Moscovo, o resultado foi 0-0. Em conversa com o grande Carlos Cardoso, este referiu que fazia um frio de rachar. Jogo equilibrado, mas com maior pendente para o Vitória.
Quinze dias depois, a 4 de Novembro de 1971, novo embate entre o Vitória Futebol Clube e o Spartak de Moscovo. Esse jogo foi disputado no nosso Estádio do Bonfim.
Eu estive nesse jogo, como em tantos outros. O Estádio do Bonfim estava completamente repleto de um público perfeitamente entusiasta. Foram estimadas cerca de 40 mil pessoas que assistiram a esse encontro memorável.
Numa partida dirigida pelo árbitro francês, Robert Wurtz, o Vitória, então orientado por José Maria Pedroto, era constituído pela seguinte equipa: Joaquim Torres, Rebelo, Carlos Cardoso, José Mendes, Carriço, Matine, José Maria, Octávio, Praia, Guerreiro, Jacinto João, Arcanjo e José Torres.
Uma equipa de sonho, que praticava um futebol calmo, apoiado, mas vincadamente ofensivo, com executantes de eleição, alguns infelizmente já desaparecidos, como Joaquim Torres, Jacinto João, Matine, Praia, Arcanjo e José Torres, que aqui presto a minha sentida e comovida homenagem.
O Spartak de Moscovo vestia de vermelho e branco; O Vitória, com o seu equipamento habitual.
Embora fisicamente muito possantes e com lançamentos longos para a frente, os soviéticos começaram a sentir bastantes dificuldades na transposição das suas iniciativas atacantes.
O Vitória foi progressivamente empurrando os soviéticos para trás e o golo de Octávio, aos 29 minutos, não surpreendeu.
Na segunda parte, o Vitória entrou endiabrado, com José Torres particularmente inspirado, e em três minutos (53’ e 56’) marcou dois golos, sentenciando a partida.
Foi um delírio!
40 mil pessoas a gritarem entusiasmadas pelo Vitória, que continuou a massacrar os adversários, com Jacinto João, aos 77 minutos, a estabelecer o resultado final. 4-0!
O Vitória Futebol Clube é um dos clubes mais prestigiados do futebol português. Vice-campeão nacional, vencedor de três Taças de Portugal, uma Taça da Liga, Supertaça Ibérica, Taça Teresa Herrera, Mini-Copa do Mundo, dois Troféus Ibéricos, três Taças Ribeiro dos Reis, entre outros, dezenas de participações em competições europeias, onde eliminou equipas tais como o Liverpool, Leeds United, Inter de Milão, Fiorentina, Spartak de Moscovo, Anderlecht, Lyon, Rapid Bucareste, Hajduk Split, entre muitas outras.
Foram onze anos consecutivos com presenças ininterruptas nas competições europeias, onde o Vitória Futebol Clube era conhecido, temido e respeitado por essa Europa fora.
Estas recordações servem para não nos esquecermos quem somos.
Ainda havemos de regressar ao lugar que nos pertence.
Fica aqui a evocação de um dos pontos mais altos da história do Vitória Futebol Clube.