PENSAR SETÚBAL: Taiwan (Ilha Formosa) e a China

PENSAR SETÚBAL: Taiwan (Ilha Formosa) e a China

PENSAR SETÚBAL: Taiwan (Ilha Formosa) e a China

, Professor
5 Fevereiro 2024, Segunda-feira
Professor

Tendo em conta os mais recentes acontecimentos que opõem Taiwan e a China, nomeadamente com a eleição para presidente de Lai Ching-te, um forte apoiante da independência definitiva de Taiwan, vamos fazer uma tentativa de enquadramento histórico.
A ilha de Taiwan foi oficialmente descoberta por mercadores portugueses em 1542 que talvez inspirados pela vegetação luxuriante e pelas falésias imponentes, deram-lhe o nome de Ilha Formosa.
Portugal não reclamou a sua posse, pelo que não prestaram qualquer atenção àquela ilha montanhosa, infestada de malária e de tribos “primitivas” e hostis e desprovida de mercadorias apetecíveis.
Foi mais tarde alvo de domínio espanhol e seguidamente, holandês, tendo sido ocupada pelo Império Chinês (Dinastia Manchú) até 1895.
Após a derrota chinesa na guerra sino-japonesa, ocorrida entre 1937 e 1945, Taiwan foi anexada pelo Japão, situação essa que perdurou até o final da Segunda Guerra Mundial.
Em 1945, após a rendição incondicional do Japão, a ilha de Taiwan retornou à posse da República da China.
Entre 1947 e 1949, decorreu na China uma guerra civil entre as forças nacionalistas lideradas por Chiang Kai-Shek e as forças comunistas lideradas por Mao Tsé-Tung.
Com a vitória militar dos comunistas, os nacionalistas (partido Kuomintang) refugiaram-se na ilha de Taiwan.
Chiang Kai-Shek governou a ilha de forma ditatorial até à sua morte ocorrida em 1975, tendo sido sucedido pelo filho, Chiang Ching-kuo.
Este deu início a uma progressiva política de liberalização. Em 1977, foi abolida a lei marcial em vigor desde 1949 e autorizado o funcionamento de outros partidos.
A morte de Chiang Ching-kuo, em 1988, acelerou a abertura do regime, sob o comando de Lee Teng-hui. O Kuomintang venceu as eleições de 1992, as primeiras com a participação da oposição.
A China sugeriu a unificação sob a fórmula “um país, dois sistemas” (comunismo e capitalismo), tal como tinha sido adoptada em Hong Konk, proposta essa que foi recusada pelo governo de Taiwan.
Em 1996, nas vésperas da inédita eleição presidencial directa no país, a China realizou manobras militares no estreito de Taiwan, tendo os Estados Unidos deslocado dois porta-aviões para a região.
A tentativa de condicionar as eleições não surtiu efeito e Lee Teng-hui foi mesmo eleito presidente da República de Taiwan
Ao longo das sucessivas décadas, a economia de Taiwan tem-se assumido como uma das mais prósperas do mundo e tem vindo a reforçar as suas instituições democráticas, sendo considerada a oitava democracia mais consolidada do mundo.
E é precisamente aqui que as coisas se complicam.
Não tenho qualquer simpatia pelo regime chinês, uma vez que entendo que é uma mistura cínica e oportunista de comunismo, capitalismo e sub-desenvolvimento.
Desde 1949 que o comunismo obriga os chineses a obedecer sem qualquer sombra ou vestígio de contestação; condiciona-lhes o pensamento e corta-lhes as liberdades. As autoridades bloqueiam e monitorizam o acesso de cada cidadão à Internet. No caso concreto do Covid-19, optaram pela omissão deliberada e criminosa de informação crucial que poderia ter evitado a pandemia, pelo menos na sua magnitude.
O capitalismo propicia a existência de uma estrutura empresarial, que explora a força de trabalho de forma desumana, com horários de trabalho extremamente penosos, que excedem por vezes as dez horas por dia, seis dias por semana, salários ainda baixos, somente com 5 a 15 dias de férias pagas. Para além disso, utilizam matérias-primas de baixa qualidade.
Quanto ao sub-desenvovimento, a China mantém ainda hábitos medievais que permitem a coexistência promíscua entre seres humanos e animais, em aglomerados urbanos com populações superiores às de Portugal.
Relativamente ao coronavírus terá mesmo tido origem no mercado de Wuhan, segundo dois estudos publicados pela revista científica Science.
Não se vencem pandemias sem transparência, sem números fiáveis e sem escrutínio, algo que não existe na China.
Quanto a questões de natureza militar, com uma população estimada em cerca 24 milhões de pessoas, durante décadas, Taiwan desenvolveu um sofisticado sistema de alerta precoce para evitar o efeito surpresa de um possível ataque relâmpago da China, possuindo 2 milhões de reservistas.
E, portanto, tendo em conta os percursos diversos que se tomaram, os dois países afastaram-se irremediavelmente um do outro .
Democracia em Taiwan; ditadura comunista na China.

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