Acabei recentemente de ler o livro intitulado “O Último Tigre do Rio” da autoria do nosso conterrâneo Jorge Paulino Pereira, médico, conhecido literariamente como Jorge Paulino, filho da Dr.ª Auzenda Paulino Pereira, uma das professoras mais prestigiadas e categorizadas que tive o privilégio de ter tido como aluno.
O referido livro insere-se no contexto do romance histórico, onde as personagens reais e as ficcionadas se misturam e entrelaçam de uma forma muito bem conseguida.
O livro tem como matriz subjacente, a amizade sólida e intemporal entre duas personalidades, tais como Josué, o “Tigre do Rio”, ex-escravo, filho de um branco e de uma negra, que nunca mais verá, e André, elitista monárquico de ideais liberais e também abolicionista.
Jorge Paulino leva-nos, através do seu talento narrativo, pelas veredas do interior, passando pela magnífica baía do Rio de Janeiro, pelos palacetes rurais, ou ainda pelas soberbas paisagens do Arquipélago de Fernando de Noronha.
Josué acalentará e perseguirá permanentemente, o sonho quase quimérico pela liberdade que se lhe vai escapando, até se tornar militar à força na guerra do Paraguai e, mais tarde, republicano convicto. Sempre com a figura omnipresente de Florisbela.
Por outro lado, André vê inesperadamente o seu destino cruzar-se com o do ex-escravo, a quem fica a dever a própria vida. Os dois, partilham as experiências mais amargas, desde os atoleiros do rio Paraná, aos decadentes ambientes duma sociedade hipocritamente elitista, que se irá despedaçar na voragem e nas contradições da revolução republicana. Separados por ideologias diferentes, mas unidos por uma amizade indestrutível, Josué e André manter-se-ão firmes na defesa intransigente dos seus ideais de liberdade e progresso, numa sociedade que implodirá com o fim da Monarquia e o advento da República.
O livro irá percorrer muitas das transformações sociais e políticas da segunda metade do século XIX no Brasil, num período historicamente conturbado.
Este é um relato vibrante e original da História do Brasil de há mais de um século, na esteira de escritores como Machado de Assis ou Jorge Amado, seguindo o dia-a-dia e o palpitar frenético da vida intensa destes dois amigos, Josué e André.
As figuras trágicas, humanamente profundas, apelativas e intensas de Josué, Florisbela e André estão muito bem descritas e caracterizadas, engolidas e influenciadas por questões de natureza política e económica, que os ultrapassam, tendo sempre subjacente um militarismo endémico e muito próprio deste tipo de sociedades tal como a brasileira do final do século XIX.
Ao passarmos pelos anos, séculos, milénios, somos sempre os mesmos, como dizia Maquiavel. Somos seres contraditórios, onde a humanidade, amizade, amor, altruísmo convivem com o poder, o dinheiro, a inveja, a ganância.
Todos estes ingredientes surgem aqui evidenciados de forma muito bem conseguida, com uma riqueza e exaustividade narrativa, percorrendo os espaços físicos, históricos e emocionais luso-brasileiros. De ontem e de hoje.
“O Último Tigre do Rio” é um excelente livro que aconselho vivamente.
Caro Jorge Paulino; as minhas mais sinceras congratulações.
A Senhora sua Mãe ficaria seguramente orgulhosa com esta magnífica publicação. Recordamo-la com muita saudade.
Um grande abraço.