PENSAR SETÚBAL: Narges Mohammadi, activista iraniana Prémio Nobel da Paz

PENSAR SETÚBAL: Narges Mohammadi, activista iraniana Prémio Nobel da Paz

PENSAR SETÚBAL: Narges Mohammadi, activista iraniana Prémio Nobel da Paz

, Professor
30 Outubro 2023, Segunda-feira
Professor

Quem pretender ter uma noção aproximada do desvario que percorre o Irão ao longo destes 44 anos de revolução islâmica, aconselho vivamente a ver o filme intitulado “Argo”, dirigido por Ben Affleck, datado de 2012, sobre  a invasão  da embaixada norte-americana em Teerão por militantes islâmicos, gerando a crise de reféns no Irão, em 1979.

Tudo isto vem a propósito da mais recente nomeação como Prémio Nobel da Paz:  Narges Mohammadi.

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Narges Mohammadi nasceu em Zanjan, a 320 quilómetros de Teerão. Estudou Física na Universidade de Qazvin onde se tornou activista. Seu pai era um cozinheiro e um camponês; a família de sua mãe interessava-se mais por política e após a revolução islâmica de 1979, um tio e dois primos foram presos. Lembra-se de  ver a mãe sentada no chão defronte à TV onde ouvia atentamente os nomes dos prisioneiros condenados à morte, tal como aconteceu a um seu sobrinho. Narges tinha somente nove anos.

Narges Mohammadi, 51 anos, fala da sua vida, e recorre sempre à palavra: «Divar». É um termo farsi que traduzido significa  «muro». «Entre mim e os meus filhos ergue-se o muro da emigração e do exílio forçado». Com efeito, Narges é mãe de dois gémeos de dezassete anos: Ali e Kiana que já não vê há oito anos e não ouve há vinte meses. Os filhos vivem Paris com o pai, Taghi Rahmani, o escritor e activista que esteve catorze anos preso. A partir da capital francesa declarou: «O Nobel é o reconhecimento de todos os homens e mulheres que lutam debaixo do slogan mulher, vida, liberdade. As suas vozes não se calarão».

O Comité norueguês  atribuiu a Mohammadi o Prémio Nobel da Paz de 2023 pela «sua luta contra a opressão das mulheres no Irão e a sua luta para promover os direitos humanos e a liberdade».

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Narges Mohammadi encontra-se actualmente na prisão, tendo já sido presa pelo regime iraniano treze vezes, condenada cinco vezes, num total de trinta e um anos de prisão e 154 chicotadas.

A presidente do comité, Berit Reiss-Andersen, após ter precisado que o regime deveria libertá-la bem como todos os restantes prisioneiros políticos, dirigiu-se directamente aos ayatollah: «Ouvi o vosso povo; ouvi um povo que ciclicamente contesta abertamente na rua a República islâmica e que teve um especial incremento há um ano, com o assassínio de Mahsa Amini, somente porque não usava o véu islâmico de acordo com os supostos preceitos religiosos».

Da prisão de Evin, em Teerão, local onde se encontram  encarcerados centenas de activistas, acantonada na sua minúscula cela, onde a única recordação de liberdade advém de uma pequena janela, por onde se vislumbram fugazmente as suas adoradas montanhas, Mohammadi consegue fazer sair uma mensagem, após ter tido conhecimento da atribuição do Prémio Nobel: «Irei sempre lutar para que se atinja o conceito de democracia, de liberdade e de igualdade. O prémio irá tornar-me cada vez mais determinada, esperançosa e entusiasmada neste percurso, e ajudar-me-á a sentir-me em paz. Ao lado das Mães do Irão, continuarei a lutar contra a discriminação de género sistemática, até se atingir a libertação plena das mulheres. Espero também que este reconhecimento torne os iranianos que protestam cada vez mais fortes e cada vez mais organizados».

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Narges Mohammadi é a segunda mulher iraniana a receber o Nobel da Paz. Há vinte anos, foi atribuído a Shirin Ebadi, advogada, activista e fundadora do Centro para a Defesa dos Direitos Humanos, local onde trabalhou também Mohammadi.

Segundo Ebadi «Narges é uma mulher corajosa. Engenheira, escritora, jornalista e activista, dedicou a sua vida a combater pelos direitos do povo iraniano, pelas mulheres, contra a pena de morte. O mundo acredita e respeita a batalhas diárias de todos nós». 

Enquanto os líderes ocidentais se congratulam com esta nomeação, do Irão chega-nos um comentário: «Condenamos estes jogos políticos».

Aliás, o ataque do Hamas a Israel utilizando armas cedidas pelo Irão, vem oportunamente também para fazer desviar as atenções dos cada vez maiores constrangimentos internacionais com os quais este país é confrontado.

Quando a religião condiciona a política, normalmente nada de bom advém daí, uma vez que existe sempre um forte condicionamento da sociedade civil.

Países e sociedades que considerem as mulheres seres inferiores, serão sempre e em qualquer circunstância, sociedades condenadas ao fracasso.

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