Caro Paulo Rodrigues
Nas últimas eleições para os órgãos sociais do Vitória Futebol Clube, eu não votei em si. A sua postura “musculada” e as tristes e lamentáveis situações em que esteve infelizmente envolvido, não configuram nem pressagiam nada de bom.
Mesmo um potencial presidente do Vitória, como era aquando dessas ocorrências, deve ter atitudes e procedimentos pessoais diametralmente opostos daqueles que teve, por muita razão que lhe possa, ou não, assistir.
Todavia, mais importante que as minhas opiniões, são os resultados eleitorais obtidos. A Democracia permite-nos aferir a vontade maioritária.
Parece-me evidente que o tempo de Vítor Hugo Valente e de Paulo Gomes como dirigentes do Vitória, chegou ao fim. Ambos pertenceram ao mesmo grupo que incendiava as redes sociais e as (muito poucas) AG’s realizadas, numa estratégia de conquista do poder, a que se seguiram opacidade, desentendimentos, quebras de lealdade e resultados desastrosos, nomeadamente a descida administrativa à 3ª Liga.
Ao fim de três anos, ambos saem infelizmente do Vitória pela porta dos fundos.
Quanto a si, gostaria de lhe apresentar a seguinte tabela:
Em vinte e cinco anos, o Vitória teve oito mandatos incompletos, quatro mandatos completos e quatro comissões de gestão, num registo claro e inequívoco de instabilidade directiva.
Actualmente, o Vitória encontra-se falido, sem património, com um estádio obsoleto, com 24 milhões de euros em dívidas e agora condenado à 3ª Liga.
Desde 2015 que o Vitória tem estado debaixo da alçada dos Planos Especiais de Revitalização (PER), que basicamente são mecanismos de protecção do clube contra credores e de renegociação de dívidas para entidades perto da insolvência. O último PER foi aprovado em Junho de 2019 e reflecte as dívidas mencionadas atrás.
As dívidas ao Estado cifram-se em 5,2 milhões de euros, sendo que 3,4 milhões à Autoridade Tributária e 1,8 milhões à Segurança Social, pagáveis em 150 prestações. A dívida a fornecedores e a outros credores chega quase ao milhão de euros e os financiamentos obtidos superam os 17,5 milhões de euros (3,8 no BCP e 13,7 na Parvalorem, a entidade pública criada para gerir os activos tóxicos do antigo BPN).
Depois temos a SAD, uma solução encontrada para gerir o futebol profissional, e que acarretou a muitos clubes, nomeadamente ao Vitória, uma miríade de ilusões e de problemas causados pela falta de competência e aproveitamentos pessoais, que depauperaram e fragilizaram o clube.
O Vitória nunca foi capaz de parar e perceber o que lhe estava a acontecer e deixou-se envolver pela voragem do dito “futebol negócio”, com efeitos perversos na dinâmica operativa do clube e, sobretudo, da SAD. Entidades diferentes, mas umbilicalmente ligadas.
Dívidas da SAD? Quais são? Quantos milhões? Ninguém sabe ao certo. A SAD foi sempre uma entidade intencionalmente opaca.
A prosa já vai longa. Com todas as reservas que me merece, mas com toda a sinceridade e vitorianismo, desejo-lhe a si e a toda a sua equipa, as maiores felicidades no desempenho desse árduo e espinhoso cargo.