Depois de largos anos de promessas e expetativas que se revelaram vãs, cremos haver, finalmente, uma certeza: Sines é hoje um ativo estratégico de elevada importância no contexto económico nacional, com capacidade para eventualmente assumir um lugar de charneira no processo de transição energética e digital. O complexo portuário é o principal garante de efetivação deste crescimento, na medida em que além do valor que acrescenta per si, a generalidade do nosso Parque Industrial depende dele.
Basta uma rápida pesquisa por Sines no google e de imediato nos deparamos com a magnitude – tanto no número quanto na sua dimensão – dos projetos de investimento privado e público-privado anunciados para o nosso concelho, nos últimos anos. A linguagem falada é sempre a dos milhões: dezenas de milhões, centenas de milhões e por vezes milhares de milhões.
É notório que estes investimentos quando chegam, de facto, ao nosso território, significam um contributo de sobremaneira importante para o concelho: da criação de emprego direto e indireto à tração da economia local, o estabelecimento de unidades desta robustez pode contribuir de forma apreciável para a melhoria das condições de vida dos sineenses.
Sucede, no entanto, que entre o momento em que os investimentos são politicamente anunciados e a sua eventual efetiva realização existe um fatal lapso temporal, que só na melhor das hipóteses será de meses e na generalidade dos casos é de alguns anos. É precisamente nesse período de tempo que a especulação imobiliária exerce o seu efeito socialmente injusto, fazendo com que os preços subam de forma artificial. Um artigo publicado no semanário Expresso, no passado mês de abril, conclui que o preço de venda de um imóvel no concelho de Sines aumentou 25% nos últimos 5 meses.
O resultado deste processo é quase sempre o mesmo. Os jovens em início de carreira cujos familiares não têm capacidade financeira para constituírem um suporte no seu início de vida são obrigados a escolher entre duas hipóteses: ou ficam na casa dos pais largos anos até acumularem uma pequena almofada financeira que lhes permita arquitetar o seu início de vida em Sines ou então são obrigados a sair, sendo a cidade vizinha de Vila Nova de Santo André o destino mais imediato.
O anúncio dos investimentos não é objetivamente negativo ou positivo; será, na generalidade dos casos, positivo quando se efetivarem e negativo quando isso não acontecer. No entanto, e se é certo que por um lado podem significar mais oportunidades profissionais para os jovens – entre eles figurando, logicamente, os de Sines – , a realidade dos factos demonstra que os rapazes e raparigas em início de carreira não têm hoje condições para pagar um arrendamento de uma habitação digna em Sines.
O poder político local tem obrigação de, em estreita coordenação com os atores locais e o governo central, criar reais mecanismos que atenuem este problema que é, já, sistémico. O executivo municipal não pode aceitar que os filhos da terra que nela querem permanecer sejam obrigados a sair para os concelhos limítrofes, contra a sua vontade. É imperativo e urgente exigir uma solução que possa atenuar esta circunstância, garantindo assim que nenhum jovem trabalhador que queira viver em Sines é obrigado a sair por não ter possibilidades de pagar uma renda de uma habitação condigna. Esta deve ser uma prioridade para os eleitos locais do município de Sines nos próximos anos.