O alheamento dos jovens da política não é um fenómeno recente. Estima-se que cerca de 60% dos jovens entre os 15 e 24 anos não manifestam interesse por temas políticos. Simultaneamente, assistimos à proliferação de movimentos populistas e extremistas, cujo crescimento se baseia num sentimento geral de desilusão com o sistema democrático representativo.
A sua propaganda agrega-se numa estratégia de marketing baseada na criação de desinformação, mediante canais informais e redes digitais, veiculando uma retórica característica, usualmente designada por fake news.
Perante esta realidade, os media são confrontados com desafios e constrangimentos que deverão ser encarados com rigor pelos agentes públicos. É premente estruturar um projecto cívico centrado na literacia política, que capacite o cidadão para aceder a informação credível e promover o seu sentido crítico.
A escola e a família poderão ser instituições relevantes neste desiderato. Relativamente à escola, é de realçar o escasso tempo dedicado a este tema. É momento de se encarar, sem preconceito, o papel estruturante que a comunidade escolar pode ter na capacitação para a literacia política: seja através da melhoria do Projecto Educativo, seja na promoção de projectos paralelos adaptados.
A confiança do cidadão nos políticos passa, igualmente, pela identificação e interacção directa com os mesmos. As camadas jovens são frequentemente colocadas de parte, por não constituírem um bloco eleitoral prioritário.
Neste contexto, os eleitos locais devem surgir como facilitadores para a resolução deste problema. Primeiramente, a sua proximidade facilita o contacto e abre a porta para uma ligação mais efectiva com as populações.
As Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia poderão ser um agente para a recuperação da confiança na classe política. Somos seres sociais, crescemos e desenvolvemo-nos em interacção com o próximo em praticamente todas as áreas da nossa vida, sendo a identificação com os pares um aspecto essencial do desenvolvimento social.
As marcas há muito já entenderam isto, utilizando cada vez mais as redes sociais e os influencers para obter um match perfeito entre modelos e expectativas do público-alvo. Se queremos uma maior participação jovem na política, a acção concreta passará, no imediato, por utilizar esse método – o papel identificador dos pares.
É essencial que os partidos recuperem o papel social dos rostos jovens na política. Do mesmo modo, projectos como o Orçamento Participativo Jovem, Conselho Municipal da Juventude ou a Semana Municipal do Voluntariado, ferramentas disseminadas por todo o país com impacto geral positivo, contribuem para a promoção efectiva dos jovens na comunidade, no movimento associativo e nas juventudes políticas.
Longe dos tempos românticos das lutas estudantis do pré e pós 25 de Abril, a presença da juventude na política é hoje conotada com um peso social negativo, associado a disputas internas de poder, compadrios, “jobs for the boys” e outro tipo de representações sociais que tem, por um lado, afastado os jovens e, por outro, impedindo-os de ter um papel de maior destaque em posições de liderança política e cívica.
É fundamental que a nova geração de actores políticos desenvolva estratégias conjuntas e suprapartidárias, de dignificação e exaltação do seu papel enquanto construtores da democracia, encontrando meios que contribuam para maior literacia dos seus pares, maior identificação e, como consequência, maior participação nas decisões políticas.