O rei Nabucodonosor II, reinou entre 605 e 562 a.C. na Babilónia e, segundo a Bíblia em Daniel 2: 31-35, está relatado um sonho do qual foi acometido.
Sonhou então com uma grande estátua, feita de ouro, prata, cobre, ferro e… barro… um material muitíssimo frágil colocado no pior local possível: os pés. Acontece que uma grande pedra atingiu justamente os pés da magnífica construção, deitando-a por terra, e onde terá, nesse mesmo lugar, nascido uma montanha.
André Ventura, líder do partido Chega, apresenta-se como uma espécie de paladino das injustiças, contra a corrupção, contra os impostos excessivos, contra a destruição dos valores tradicionais, a favor da castração química para culpados de crimes de pedofilia, contra a imigração, contra a comunidade cigana, a favor da instalação de uma 4ª República e declaradamente anti sistema vociferando sempre em decibéis bastante elevados a palavra vergonha e, noutras alturas, usando expressões de índole religiosa/católica, tais como: “Oh meu Deus”, ou “Minha Nossa Senhora”.
As suas intervenções teatrais e dramáticas, são acompanhadas sempre de fervorosas palmas da sua bancada, tentando enfatizar o momento e contagiar quem assiste a este dantesco espetáculo.
Nada nos deverá mover contra as convicções religiosas do “Querido Líder” do Partido Chega, mas há todo um oceano que nos deverá separar quanto à forma e ao conteúdo político que preconiza.
Todos percebemos, a estratégia populista que infelizmente grassa por diversos países da Europa, e cujo sucesso está intimamente ligado às fragilidades da democracia em criar mecanismos que a defendam destes movimentos, onde a “conversa de taberna” e o protesto são a linha condutora que marca a cadência das palavras.
Mas será que alguém, que tenha um mínimo de bom senso, consegue ver algo de positivo na postura adolescente/rebelde que apresentam no Parlamento? De revolta constante, de brigões, de gozo para com os pares, de linguagem gestual inapropriada, de sinais de protesto tais como uso de indumentária preta nas comemorações do 25 de Abril ou no dia de votação da Lei da Eutanásia, da utilização de cartazes como o que se viu no caso da acusação de impunidade à deputada Catarina Martins do Bloco de Esquerda… enfim, é um sem número de exemplos daquilo que não deve ser a postura de representantes do povo na casa da democracia.
Se olharmos com atenção para o que está plasmado nas dezoito páginas (sim, leu bem), do programa do partido Chega, poderá constatar, que um partido tão protestativo, que exige demissões em massa do executivo, que se propõe a ser solução de Governo do país, e para o qual tudo… mesmo tudo, está mal, só pode ter, afinal, um ídolo com pés de barro, talvez como aquele com que em tempos sonhou, o rei Nabucodonosor II, e no lugar onde havia ouro, prata e cobre, surja nada mais nada menos que uma monte de pedras, frias, imóveis e poeirentas.