Este é o título de um conjunto de cinco artigos que sairão neste espaço, com o objectivo de clarificar os termos da próxima disputa eleitoral autárquica.
O pensamento do título deste artigo é da autoria do historiador e estadista italiano Francesco Guicciardini (1483-1540) cujo acerto tem sido confirmado pela prática.
Por mais simples que a eleição seja, por mais certa que pareça a vitória, uma eleição está sujeita a incidentes, acidentes e imprevisibilidades tais que, somente, uma pessoa leviana e irresponsável pode considera-la vencida à partida.
Uma vitória é sempre o resultado da combinação do nosso acerto com o erro dos adversários. A combinação do acerto dos adversários com os erros que nós cometemos resulta na vitória deles e na nossa derrota, ainda que a eleição pareça fácil.
Se nós acertarmos na estratégia e nos métodos e se o adversário errar, a nossa vitória é mais que certa.
No entanto, nesta equação (acerto/erro) há um pequeno/grande pormenor geralmente esquecido: entre a pretensão e a realidade encontra-se o voto do eleitor, a sua vontade, quase sempre determinada, em política, mais pela percepção do que pela realidade.
Há cinco factores que levam um candidato a considerar vencida uma eleição antes de ela terminar:
1 – Arrogância e vaidade;
2 – Desprezo pelos adversários;
3 – Convencimento de que o desemprenho autárquico não podia ser melhor;
4 – Tomar o todo pela realidade, no que ao apoio da sociedade diz respeito;
5 – Formar opinião com base num círculo estreito, que geralmente vê tudo a cores e opina para agradar ao chefe, subestimando (por ignorância e sectarismo) a outra parte da realidade.
A fantasia da vitória atinge principalmente os governantes ou autarcas que buscam a reeleição.
Mas a história está cheia de exemplos que nos indicam quanto, em política, a percepção é mais importante que a realidade. E porquê? Porque a possibilidade de um só indivíduo adquirir um conhecimento preciso da realidade política é muito pequena, daí a percepção da realidade assumir, na política, um papel central. Muitas vezes, os eleitores não votam pelo que se fez, mas pelo que se diz sobre o que não fez ou sobre a forma como se fez.
Por exemplo nas eleições municipais de 2004 em Porto Alegre (Brasil), 76% dos eleitores apoiavam a iniciativa de Orçamento Participativo criado pelo PT e promovido como um instrumento de gestão democrática. Aos responsáveis do PT nunca passou pela cabeça não serem reeleitos. No entanto, perderam em toda a linha e bastou a José Fogaça (PMDB) defender uma coisa simples: “Vamos mudar o que precisa ser mudado sem destruir as coisas boas que a cidade teve nos últimos anos: o transporte público, o Orçamento Participativo, o Fórum Social”.
Ao captar a percepção da realidade e ao jogar com o acerto das suas propostas e os erros do adversário, Fogaça conseguiu o que ninguém acreditava.
O político que quer ser reeleito até pode vir a assegurar uma vitória eleitoral mas, atenção, só no final e depois de contados os votos se saberá.
Até lá, deve preparar-se para uma disputa eleitoral difícil onde tudo pode acontecer.
NOTA: No próximo artigo o tema é: “A importância da reputação do candidato”