A passada semana terminou com uma polémica que todos conheciam, mas apenas limitavam-se a olhar para o lado e ignorar. A pandemia veio a expor uma situação que já há muito estava a ser seguida e denunciada que é a situação de quase escravatura dos imigrantes, na sua maioria nepaleses, que são a mão de obra maioritária nas estufas e explorações agrícolas um pouco por todo o Alentejo, especialmente no Sudoeste.
Se todo este processo é totalmente inaceitável para um país pertencente à união europeia no século XXI, assume contornos imorais quando só vem a praça pública no momento em que alguns proprietários em time sharing de um empreendimento turístico insolvente vêm contestar a requisição civil para que essas pessoas totalmente desprotegidas e esquecidas possam ter algum apoio e condições sanitárias, especialmente porque o concelho em questão enfrenta focos de infecção preocupantes.
Não consigo acreditar que os milhares de pessoas que nos últimos anos frequentaram as praias, as cidades e vilas, os festivais de música do litoral alentejano não possam ter reparado no súbito crescimento de imigrantes oriundos de países como o Nepal ou o Paquistão. Que não tenham parado para pensar nas condições em que estas pessoas tão frágeis e tão desprotegidas viviam. Que não fosse possível imaginar, tendo em conta os exemplos que vemos em outras latitudes, na exploração, na condição quase escrava e de outros abusos que sofreriam.
A causa do que se passa no concelho de Odemira com a populações migrantes não é como apontam alguns ambientalistas as explorações intensivas e que usam métodos até agora nunca aplicados com esta dimensão, pois estão apenas a dar resposta a uma procura crescente de quem quer comer framboesas no inverno e quer comprar alfaces para as suas saladas já lavadas para que não tenham que se dar a esse trabalho.
As reais causas da exploração de seres humanos baseiam-se na ganância desmedida, na procura do lucro fácil e no racismo. Durante a história da humanidade temos tido diversos exemplos semelhantes e acho que podemos concordar que não há continente em que numa qualquer altura da história alguém não tenha subjugado outro, apenas por este estar numa posição mais frágil, numa condição mais débil.
E é por todo este lastro que a história nos dá que deveremos estar atentos a situações como estas. Não permitir que ocorram, muito menos que sejam práticas correntes em pontos específicos do território nacional. Os responsáveis terão de ser devidamente responsabilizados e punidos por todos os crimes que têm vindo a cometer bem debaixo dos nossos olhos. Mas antes urge resolver o grave problema sanitário que têm vindo a assolar estas comunidades comprometendo todos os esforços diligentes que a maioria tem assumido no combate a este inimigo invisível contra o qual lutamos há mais de um ano.
Para terminar queria lamentar o facto de que muitos daqueles que tão empenhados estão em discutir quem paga o papel higiénico dos trabalhadores que estão em teletrabalho, não se tenha dignado a proferir uma palavra ou a escrever sequer uma linha sobre estes atentados à condição e dignidade humana e aos direitos de trabalhadores.