É este tempo de férias, sem horários nem destinos obrigatórios, o tempo mais propício ao usufruto da actividade cultural, no nosso país.
E quando à Cultura se juntam testemunhos das nossas raízes, como é o caso, o tema torna-se, ainda, mais atractivo.
Tal aconteceu numa recente visita pela cidade de Vila do Conde, para assistir a uma evocação da vida e da obra do compositor Jorge Peixinho.
A homenagem inseria-se na 13ª edição do Circular – Festival de Artes Performativas de Vila do Conde, realizado entre os passados dias 22 e 30 de Setembro.
Na evocação do maestro, sob a designação de “Conversa em torno de Jorge Peixinho”, no dia 29 de Setembro, no Centro Municipal de Juventude, em Vila do Conde, foram oradores principais a Dr.ª Teresa Rocha, antiga directora pedagógica do Conservatório de Música de Vila do Conde, e o compositor Eduardo Luís Peixoto, professor do mesmo Conservatório e antigo aluno de Jorge Peixinho.
Ao ouvir a Dr.ª Teresa Rocha logo me apercebi da principal razão desta evocação: o maestro Jorge Peixinho foi um grande amigo de Vila do Conde, cidade onde se deslocava, aos sábados, vindo de Lisboa, para dar as suas aulas de música, sempre a título gratuito, na então Academia de Música S. Pio X, hoje Conservatório de Música de Vila do Conde. E sempre carregado de discos vinil, com Wagner e Mahler como principais referências, no dizer da oradora, Jorge Peixinho aqui manteve o seu curso de História da Música Contemporânea, desde o ano de 1988 até à sua morte.
A oradora foi peremptória na afirmação de que foi fundamental o empenho e a influência do maestro para a criação, em 1988, dos Cursos de Aperfeiçoamento Musical, financiados pela Câmara Municipal de Vila do Conde e pela então Secretaria de Estado da Cultura, e, ainda hoje, em funcionamento.
E foi com orgulho na terra em que nasci, que assisti a esta evocação, na cidade de Vila do Conde, de uma das mais ilustres figuras nascidas no Montijo. Sentimento que tive oportunidade de testemunhar a todos os presentes e que, hoje, é partilhado por todos os montijenses.
Falei-lhes, igualmente, das justíssimas homenagens prestadas pelos seus conterrâneos, antes e após a sua morte, ocorrida no dia 30 de Junho de 1995: ainda em vida, com a Medalha de Ouro da Cidade do Montijo, recebida em 1991; já depois de falecido, em 1998, com a atribuição do seu nome à antiga Escola Secundária Nº 1 do Montijo, a actual Escola Secundária Jorge Peixinho; em 2001, como o seu nome a figurar numa avenida na zona urbana do Montijo; e, em 2002, com a Câmara Municipal a apoiar financeiramente a edição da obra Jorge Peixinho: In Memoriam, coordenada por José Machado, numa edição da Editora Caminho desse mesmo ano de 2002.
Falei-lhes, por fim, naquilo que nos dizia mais respeito: o projecto de inventariação e digitalização do seu espólio documental, existente no Arquivo Municipal do Montijo; da candidatura que apresentámos à Fundação Calouste Gulbenkian, em 2011, para financiamento e que viria a ser seleccionada; e dos trabalhos de inventariação e digitalização do Arquivo do Maestro Jorge Peixinho concretizados entre Setembro de 2011 e Agosto de 2012. E a referência ficou para os investigadores musicais presentes no encontro e para seus estudos posteriores.
De Vila do Conde viemos mais ricos com todos estes ensinamentos sobre o maestro Jorge Peixinho que, nas palavras do compositor Eduardo Luís Patriarca, outro dos oradores, foi dos músicos que mais influenciou os novos músicos e, em particular, os novos compositores portugueses.