Jaime Rebelo, o Homem da Boca Cerrada (parte II)

Jaime Rebelo, o Homem da Boca Cerrada (parte II)

Jaime Rebelo, o Homem da Boca Cerrada (parte II)

, Professor
27 Novembro 2023, Segunda-feira
Professor

Na semana transacta tinha iniciado um percurso biográfico sobre uma personalidade setubalense incontornável: Jaime Rebelo.
Para a realização destas duas crónicas contei com a preciosa colaboração dos seus netos, os meus queridos amigos Fernando Rebelo Alves, Sérgio Rebelo e também José Rebelo que de uma forma entusiasmada colaboraram com inúmeros dados de índole biográfica e a quem agradeço publicamente
No início dos anos setenta, Jaime Rebelo ficou viúvo. Convocou os dois filhos e disse-lhes que tinha uma dívida de gratidão para com uma senhora basca, de nome Eloísa que conhecera em Barcelona e que, numa época tão difícil, cuidara do filho suscitando nele a ideia de um pai combatente pela liberdade.
Eloísa deslocou-se para Portugal, casando-se posteriormente com Jaime Rebelo.
Esta História fascinante e apelativa de Guerra e de Amor, de Sonho e de Desencanto viria a ser tema de uma peça de teatro intitulada «Viva La Vida» que foi estreada no teatro A Barraca em Setembro de 1996.
Encenada por Hélder Costa e com Maria do Céu Guerra no papel de primeira e segunda mulher de Jaime Rebelo, a peça seguiu um guião do historiador César Oliveira para quem Jaime Rebelo foi “um homem para além do tempo”.
Durante toda a sua aventurosa vida, mesmo tendo sempre subjacente a sua luta ideológica, Jaime Rebelo nunca descurou os estudos e foi graças à sua formação e à cultura que adquiriu, que trabalhou como revisor do jornal República, ao lado de Francisco Quintal, seu destacado correligionário que em 1927 tinha fundado em Valência, a Federação Anarquista Ibérica (FAI).
Em Janeiro de 1975, Jaime Rebelo participou numa reunião da Assembleia Geral do Sindicato dos Pescadores de Setúbal, de que era Presidente honorário. Assistiu, de forma extremamente triste e desanimada, aos primeiros desentendimentos entre socialistas e comunistas.
Saiu. Apanhou o transporte para Lisboa, onde residia.
Chegou a casa e sentiu-se mal. Foi levado para o hospital de S. José, onde viria a falecer, na sequência de um ataque cardíaco.
Posteriormente o seu nome seria muito justamente atribuído a uma avenida de Setúbal, junto ao rio Sado, no prolongamento da Av. José Mourinho, iniciando-se nas instalações do Clube Naval Setubalense e deslocando-se para Nascente, até ao Cais das Fontaínhas.
Como a placa toponímica estava completamente invisível, uma vez que a tinta desapareceu das letras, devido ao inevitável desgaste do tempo, quando eu e meus colegas e amigos da Universidade nos juntámos aqui em Setúbal, resolvemos o problema.
Munidos de pincel, tinta preta e um escadote, coube ao neto de Jaime Rebelo, o nosso querido colega e amigo, Sérgio Rebelo, grande setubalense e vitoriano, residente em Almada, fazer as honras da casa.
O Sérgio lá subiu e, incentivado pelos restantes amigos que segurávamos o escadote, esteve todo satisfeito a pintar as letras da placa toponímica existente na parede do Clube Naval Setubalense, homenageando, com este pequeno, singelo, mas importante e transcendente gesto simbólico, a memória do seu avô.
Jaime Rebelo é também avô do meu querido amigo de muitos anos e também colega de profissão, Fernando Alves.
Um abraço ao Sérgio e ao Fernando e ao José Rebelo.
Não gostaria de terminar estas duas crónicas sem lançar publicamente à família, o repto que já tive ocasião de fazer em privado e que é o seguinte: Dada a vida extremamente rica, fecunda e aventurosa deste Homem de corpo inteiro que viveu muito para além do seu tempo, justificar-se-ia, quanto a mim, a realização e posterior publicação de um livro de índole biográfica.
Fica aqui o repto.
Temos todos nós, principalmente aqueles que têm responsabilidades nomeadamente de índole jornalística local, o dever de conhecer, reconhecer, valorizar e divulgar figuras setubalenses que se notabilizaram e que conseguiram resgatar o próprio sentido existencial, inspirando outros a fazê-lo.
Jaime Rebelo, o Homem da Boca Cerrada.
Um abraço aos netos e a toda a família.

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