Comove até às lágrimas imaginar-se a tão prolongada (5 dias) agonia, até à morte, do pequeno e inocente Rayan. E o suplício, igualmente até ao trágico desfecho, sob um frio intenso durante 9 horas, perante a indiferença geral numa das ruas mais movimentadas de Paris (podia ser noutra qualquer grande cidade), do fotógrafo René Robert.
É assim esta sociedade: ver para crer! Ou melhor, é preciso que lhe metam pelos olhos dentro, insistentemente, como o fizeram as televisões de todo o mundo em relação ao caso da criança, em Marrocos, para haver comoção.
Claro que as televisões cumpriram o seu papel informativo. Mas, a insistência referida, lamentavelmente, mesmo neste e noutros casos tão tocantes, tem mais a ver com as audiências.
Por outro lado, é a fria e desumana indiferença. Foi preciso um sem-abrigo, condição pela qual, com certeza, os indiferentes transeuntes tomaram René, avisar a polícia. Infelizmente já era tarde. O homem tinha morrido de hipotermia.
Outra conclusão a tirar desta abissal diferença na reacção a estas duas trágicas mortes é o imenso poder das imagens. Da televisão. E quem a controla, sabe-o bem. Oh se sabe! Destaca o que lhe convém, deturpa ou silencia, o que não interessa aos seus donos: o poder económico e o político ao seu serviço.
Os exemplos abundam. Ainda há dias, foram mortas seis crianças na Síria que tiveram algum mediatismo porque, segundo quem provocou essas mortes, os EUA, através da sua força aérea, alegaram que o pai delas era um líder terrorista que se fez explodir, provocando a morte de toda a família. Mas a indiferença também é fomentada!
Quantos terríveis acontecimentos se tornam banais. Imagine-se a quantidade de crianças (e adultos) assassinadas pelos chamados “efeitos colaterais”, ou mesmo reais, do mesmo fogo norte-americano.
No Afeganistão, no Iraque, na Síria e através da NATO que controlam, na Jugoslávia e na Líbia? Muitos milhares. E, já agora, convém não estarmos também nada indiferentes aos milhões delas, mais uma vez, crianças e adultos, que estão em risco com o potencial conflito, cujo principal protagonista é, mais uma vez, os mesmos EUA, a “sua” NATO e aliados.
O pretexto, a desculpa, é a Ucrânia. A verdade, é sempre a mesma: o desejo de hegemonia global. Mas, neste caso, a coisa fia mais fino! É que, do outro lado, está uma das principais potências nucleares e os seus vizinhos têm as barbas de molho. E não há, pelo menos para já, ou nunca, substituição para o indispensável gás russo.
Caso contrário, se a desmedida ambição dos falcões americanos não se conter, pode ser o apocalipse para todos nós. Para a Europa. Portanto, mais uma vez, nada convém a indiferença. E não só nestes casos extremos. Perante atentados contra a Natureza, contra seres humanos, principalmente os mais frágeis e indefesos, mulheres e crianças, por exemplo, em casos evidentes de violência doméstica, contra os direitos dos animais, etc.
Além de insensibilidade ou cobardia, a indiferença, pode atingir foros de conivência.