O cancro da mama (CM) é a neoplasia mais frequente na mulher e a 2ª causa de morte por cancro no mundo. São fatores de risco a idade, história pessoal/familiar de CM, ocorrência de mutações relacionadas com síndromes hereditárias (nomeadamente nos genes BRCA 1/2), maior exposição a estrogénios (menarca precoce, menopausa tardia, uso de anti contracetivos orais, terapêutica hormonal de substituição) e excesso de peso/obesidade2. Este último constitui um fator de risco modificável, sobretudo em mulheres pós-menopáusicas com tumores com recetores hormonais positivos, justificado pelo aumento da conversão periférica dos percussores de estrogénio a estrogénio no tecido adiposo (gordura). Em Portugal, 29% dos indivíduos entre os 25-74 anos são obesos, e apenas 42% da população pratica exercício físico regular. Para além das implicações a nível cardiovascular, no doente com cancro, a obesidade associa-se a um aumento do risco de recidiva, influencia o tipo de cirurgia e relaciona-se com um período pós-operatório mais prolongado com maior risco de complicações.
O exercício físico mostrou ser benéfico e seguro na prevenção e tratamento do CM, independentemente da fase da doença, melhorando os sintomas relacionados com o tratamento e a qualidade de vida. A prática de atividade física associou-se a uma redução do risco de CM em 12%, independentemente do status hormonal e mostrou diminuir o risco de morte por CM em 50%, sobretudo em mulheres com tumores com recetores hormonais positivos, que praticam o equivalente a 3-5h de caminhada/semana. Os benefícios observados são explicados, em parte, pela diminuição do tecido adiposo e do nível de hormonas envolvidas na fisiopatologia do cancro, juntamente com efeito o do exercício no sistema imunitário.
A deteção precoce e a melhoria da eficácia dos tratamentos, têm permitido uma melhoria do prognóstico desta doença. No entanto, os tratamentos oncológicos associam-se a efeitos secundários limitantes, tais como a fadiga e astenia, perda de massa muscular e ganho peso, osteoporose precoce, neuropatia periférica, linfedema, insónia, ansiedade e depressão, que condicionam diminuição da qualidade de vida da doente com cancro. Vários estudos tem vindo a demonstrar que a implementação de programas de exercício físico nas várias fases da doença melhoram a tolerância ao tratamento, com diminuição da incidência deste eventos, e melhoria consequente da qualidade de vida. Recentemente foram publicados os dados do estudo OptiTrain Breast Cancer Trial, mostrando que as doentes que realizaram treino de resistência combinado com alta intensidade – RT HIIT – tiveram um benefício de sobrevivência global e livre de cancro (redução do risco ~70-75%), bem como diminuição de 3% de hospitalizações e de 27% de trombocitopenia, melhoria da massa muscular, resistência e fitness.
As guidelines atuais recomendam exercícios aeróbios (150min/semana) combinados com treino de força (2-3x/semana), em planos adaptados ao doente, doença e tratamento. A prática de atividade física deve, assim, ser recomendada e incentivada pela equipa médica e acompanhada por profissionais do exercício. A inclusão em programas comunitários/grupo é uma opção a considerar, com maior taxa de adesão e eficácia.