Passam pouco mais de 100 dias de vida do Governo e é tempo do debate do estado da Nação. E a Nação, que viveu num marasmo nos últimos oito anos, com a total ausência de reformas estruturais, diversos setores públicos em colapso e a crescente degradação das instituições, tem agora Esperança.
Esperança de que se resolvam paulatinamente os problemas do SNS, estancando a saída de profissionais de saúde por via da oferta de melhores condições de trabalho, horários mais equilibrados e serviços mais apetrechados, dotando de médicos as muitas famílias que ainda não os têm, munindo as urgências da capacidade de resposta que não possuem, dando às pessoas as respostas que não encontram.
Esperança de que continue a garantir-se o mais fácil acesso à habitação, tanto aos jovens que pretendem autonomizar-se e constituir família, como aos menos jovens que pretendem alargá-la ou simplesmente mudar para melhores condições de vida a que também têm direito.
Esperança de que se combatam verdadeira e eficazmente a corrupção e a opacidade que têm minado o Estado, favorecido alguns em detrimento de muitos, e negado ao país a justiça, a transparência e a igualdade que devem definir a ação de um Estado de direito democrático.
Esperança na execução das reformas de que o Estado precisa, cortando despesa em rendas, património e serviços, usando os seus próprios meios e recursos humanos para obter o trabalho qualificado de que necessita.
Esperança na solução das desigualdades estruturais que se agudizaram com o passar dos anos, que impedem o funcionamento do elevador social, retiram os estudantes do ensino superior por falta de meios, afastam os jovens licenciados por falta de trabalho justamente pago e atiram os mais velhos e, de entre eles, especialmente as mulheres, para o risco de pobreza.
E nada disto precisa de soluções milagrosas. Basta que o Governo continue o seu caminho reformista, calendarizando e executando, monitorizando as reformas que tem já em curso e apresentando os resultados que o país espera há demasiado tempo, há tanto tempo que até a esperança se abalou quase definitivamente.
Por agora, não se lhe pode pedir mais: fez em 100 dias o que outros não fizeram em oito anos. Cito apenas três de muitos exemplos. Resolveu, em maio, o nó da contagem do tempo de serviço dos professores, com todo o impacto que tem na vida das escolas. Chegou, em junho, a acordo com os sindicatos dos funcionários judiciais, em greve há longos meses. E após difíceis e intensas negociações com os sindicatos da PSP e com as associações sindicais da GNR, resolveu a injustiça criada pelo governo socialista, concluindo, em julho, um acordo histórico que trouxe às forças de segurança o maior aumento remuneratório da história da democracia, o mesmo acontecendo com o acordo fechado com os guardas prisionais.
O estado da Nação tem hoje nome de Esperança e quem a destroçar precipitada e injustificadamente será, estou convicta, duramente censurado pelas portuguesas e pelos portugueses.