Caro leitor, diz-se, muitas vezes, que não é a oposição que ganha as eleições: é quem está no poder que as perde. Será, portanto, o mau desempenho de quem exerce o poder que leva à derrota e não as propostas da oposição que seduzem os eleitores.
A realidade – até a política – é demasiado complexa para se reduzir a dois extremos: ela tem uma infinidade de pontos intermédios.
O que nos leva a concluir que, nas vitórias e nas derrotas, há muito mais além do mau desempenho e da sedução dos eleitores. O desempenho de quem está no poder conta, em especial a avaliação feita pelos votantes. E conta também o que a oposição faz para convencer os eleitores de que é uma alternativa melhor do que o que existe.
Mas devemos ter presente que os eleitores, habitual e generalizadamente, têm comportamentos conservadores. Se a mudança que a oposição oferecer não lhes parecer boa, se, ao mesmo tempo, acharem que quem está no poder, não sendo excelente, bom ou assim-assim, pelo menos não é muito mau, é provável que os eleitores não arrisquem, que sejam conservadores: e que a oposição não ganhe a eleição. «P’ra melhor, está bem, está bem, p’ra pior, já basta assim», diz-nos uma canção popular cheia de sabedoria.
Isto remete-nos para as estratégias eleitorais, especialmente da oposição que luta pelo poder. Estamos muito perto das eleições autárquicas de Setembro ou Outubro próximos e surgem as primeiras acções de pré-campanha, tanto por parte de quem está no poder como da oposição que luta por ele.
Em minha opinião, há duas condições básicas para se ganhar eleições:
1.ª – Relação de proximidade e confiança com os munícipes.
Quem está no poder é essencial que tenha estabelecido essa relação ao longo do mandato cessante (e nos anteriores), ouvindo regularmente os munícipes, as suas queixas, opiniões e sugestões, assim como tenha procurado saber a avaliação que fazem do trabalho desenvolvido. Quem está na oposição é igualmente essencial que tenha estabelecido essa relação (pelo menos, ao longo do mandato que cessa), reunindo-se, regularmente, com os munícipes e discutindo abertamente todos os assuntos autárquicos, de modo a construir uma relação de confiança e a inspirar credibilidade. Mas esta relação de proximidade e confiança, tanto de quem está no poder como na oposição, se se fizer nas vésperas das eleições será vista como «caça ao voto» e falta de respeito pelos eleitores, prática muito comum entre nós: o que explica boa parte das elevadas taxas de abstenção eleitoral.
2.ª – Falar de coisas concretas, não de abstracções políticas.
E tendo em conta estes três eixos:
(i) Qualidade de vida dos munícipes (o que conta para o seu dia-a-dia e cabe às autarquias fazer): rede viária; espaços públicos (limpeza e manutenção); rede de água e de esgotos (para todos); higiene urbana (recolha, separação do lixo e limpeza do espaço público); taxas e impostos municipais baixos, etc. Tudo isto perdeu importância para o que se tornou moda (o foguetório e o espectáculo permanentes), que embriaga muitos autarcas (alguns parecem autênticos profissionais de espectáculos de diversão) e os leva a gastar os recursos que deviam alocar ao essencial;
(ii) Visão estratégica para o futuro dos concelhos: atracção de actividade produtiva; projecção para o exterior; atracção de residentes e visitantes;
(iii) Meios de realização: que não devem ignorar as limitações do orçamento nem as rubricas da despesa comprometidas à partida, assuntos sobre os quais todos evitam falar.
Centrem as campanhas eleitorais nestes três eixos, evitando discursos abstractos, redondos, ideológicos, acusações e agressões verbais ou promessas irrealistas, que têm dado no distrito as maiores taxas de abstenção do país e em 4 câmaras taxas acima de 60%.
Desistam de programas que ninguém lê, como em Palmela em 2013: 14 objectivos e 278 acções prioritárias (CDU); 4 áreas e 117 compromissos (PS); 13 áreas e 65 medidas (PSD/CDS). Repetir o mesmo guião dará resultados semelhantes. Partidos e autarcas, quando perceberão isto?