“Admirável condição da natureza humana, que tudo nos parece melhor e menos feio, quando visto de longe!”
Almeida Garrett – Viagens na Minha Terra. Lisboa: Editora Ulisseia, [s. d.], p. 200
Tal como Almeida Garrett afirma nas suas “viagens”, também eu penso que visto de longe tudo nos “parece melhor e menos feio”.
Daí, a saudade que os emigrantes têm da sua terra natal. E sempre que podem aqui regressam para as suas férias; e, após a sua passagem à reforma, muitos para aqui mudam a sua residência.
Vêm pelo Natal, pela família, pelo S. Pedro, pelas suas festas e pela sua ligação afectiva à sua terra natal.
Com a distância temporal também. Quando pensamos na nossa terra, de quando da nossa infância, tudo nos parece melhor que no presente.
A História de cada uma das nossas terras, para além de disciplina científica é igualmente instrumento de cidadania e laço afectivo entre quem aí trabalha ou reside, entre conterrâneos ou visitantes.
Na dimensão temporal, constroem-se as bases de uma cultura regional e local, elemento a elemento, num edifício sui generis, muito próprio, de cada comunidade.
O concelho do Montijo não foge à regra: na sua História se perscruta a razão de sua singularidade, da sua matriz, ou ex-libris. Daí, a importância da História para a definição da sua especificidade cultural.
A realidade que hoje existe, no que respeita à nossa vivência social, é bem pior do que a imagem com que ficámos desses tempos mais antigos.
A crise epidémica, a somar à já pouca actividade social preexistente, tem dado um forte contributo negativo…
As notícias mais recentes e só para citar algumas, são testemunho disso mesmo: o cancelamento das festas tradicionais de S. Pedro, para este ano de 2020, decidida em reunião de Câmara de 29 de Abril e o encerramento definitivo da emblemática e histórica “Pastelaria Mimosa”.
Bem diferentes dos tempos da nossa infância e juventude: das tertúlias, das associações culturais e outras colectividades, locais onde nos juntávamos e onde todos os projectos e desejos eram discutidos entre todos, e com cada um. A reunião de amigos fazia-se, aqui no Montijo, como nas demais localidades do País, à volta dos cafés, das colectividades e das praças públicas.
A pastelaria Mimosa, onde a cidadania mais activa se reunia para o café e a conversa do dia, era um desses pontos, mas também as associações culturais, recreativas, ou desportivas, segundo os interesses de cada um, onde se repartiam os cidadãos mais participativos, como na 1º de Dezembro e nos seus bailes, na 2 de Janeiro, nos comícios políticos, em eleições esporádicas, no Musical, nos seus convívios mais in, ou, mesmo, no Ateneu, mais jovem e radical. De todos, ficam-nos gratas recordações e saudades, mais, ainda, quando, hoje, constatamos que pouco ou nada resta destas antigas vivências.
Mesmo que hoje nos pareça e, na realidade, seja este presente bem pior, a História refaz a verdade: Montijo tem um passado glorioso e o futuro não tem que ser diferente, passado que seja este mesmo presente.
A História também nos habilita a conhecer da forma mais aprofundada a realidade e das suas razões, e, assim, escolher melhor o futuro.
De longe, tudo nos parece melhor e menos feio, mas também, com essa visão, é mais fácil preparar esse mesmo futuro.