De Hospício a Posto da Polícia – um Edifício com História

De Hospício a Posto da Polícia – um Edifício com História

De Hospício a Posto da Polícia – um Edifício com História

8 Fevereiro 2019, Sexta-feira
Francisco Correia -Historiador
Francisco Correia -Historiador

Onde hoje está instalado o posto da PSP do Montijo existiu uma ermida pública do Convento de Nossa Senhora da Graça de Lisboa, da ordem dos Eremitas de Santo Agostinho.

É prova da sua antiguidade o primeiro enterramento que encontrámos nesta ermida, no ano de 1607, referido num registo de óbito da paróquia de Aldeia Galega do Ribatejo. Diz assim: “Aos dous dias do mês de Janeiro de 1607 faleceo Domingues Fernandes homem trabalhador. Está enterrado na ermida de Nosa Senhora da Graça desta villa. Non fez testamento. Mandou e declarou perante testemunhas que fosse enterrado nesta ermida. Francisco Alvarez Bernardo”[1].

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A descrição mais antiga que se conhece da ermida é de 1712. É seu autor, o padre Carvalho da Costa, que a menciona no conjunto das igrejas da então vila de Aldeia Galega: “Nossa Senhora da Graça, de frades de Santo Agostinho, junto à sua quinta, à entrada da villa”[2].

Um século depois, em 1834, aquando da extinção das ordens religiosas, no seu ramo masculino, como era o caso do Convento de Nossa Senhora da Graça de Lisboa, é assim descrita esta quinta e os demais bens de sua pertença, na vila de Aldeia Galega: “Quinta na villa de Aldegalega, comarca de Setúbal. Tem casas e Ermida com pomar e alguma vinha, lagar, adega, palheiro, etc. Tem mais três marinhas dependentes, cada uma em separado, chamadas do Seixal, a marinha do Pipeiro e a marinha dos Pinheirinhos. Era administrada esta quinta pelo Convento”[3].

E ainda no mesmo documento, esta quinta é descrita com mais pormenor: “… propriedade de casas, com sua capela, adega, com seu lagar de vara e horta, com seu posso de nora e tanque, toda morada em roda e seu repuxo no meio da horta”[4].

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Nas suas confrontações, a quinta prolongava-se, a Sul, desde a capela (actual, posto da PSP) até ao rio, pelo chamado corte do Mouro, hoje, bairro Serrano, e confinava, a Poente, com as casas da família Laranjo (hoje, largo do Laranjo), muito próximo do cais da vila.

Daí, Fr. Domingos Vieira, cronista da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, se ter referido, em 1835, a esta quinta, nos seguintes termos: “Aqui logo à entrada da Villa ao desembarcar tem o Convento de Lisboa huma Quinta com Capella publica da invocação de N. S. da Graça”[5].

Todos os bens móveis e imóveis pertencentes a este Convento, na antiga Aldeia Galega do Ribatejo, passaram para a propriedade do Estado e dois deles eram descritos, em 1871, como bens próprios da Câmara Municipal[6]: “edifício na rua da Graça que foi hospício dos Padres Gracianos de Lisboa”, descrito com o nº 3 do inventário, concedido à Câmara Municipal por Carta de Lei de 18 de Setembro de 1841; e “terreno que outrora foi a horta do hospício dos Padres Gracianos de Lisboa”, descrito com o nº 109 do inventário, adquirido à Junta de Crédito Público pela Câmara Municipal, por 36$000 réis, em 11 de Fevereiro de 1843.

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Neste último terreno, viria a ser construído o 1º cemitério público de Aldeia Galega, o actual cemitério de S. Sebastião do Montijo, benzido em 20 de Janeiro de 1844.

Quanto ao edifício, viria a ser quartel (com a referência mais antiga do ano de 1837) e escola, antes do seu destino actual de posto da PSP do Montijo, este último, iniciado em Dezembro de 1965.

Como edifício escolar, registe-se a instalação da Escola Primária Superior, entre os anos de 1922 e 1926, tendo como director, o Dr. Manuel Paulino Gomes, e após importantes obras de remodelação realizadas no edifício.

Extinta a Escola Primária Superior, pelo decreto n.º 11.731, de 15 de Junho de 1926, continuou a ser ministrado o ensino primário, neste edifício, até aos anos 60, sendo, progressivamente, substituído pelas chamadas escolas do Plano do Centenário, a da Av. Luís de Camões, inaugurada em 1949, e a escola primária do Bairro do Mouco, inaugurada em 1960.

[1] ADSTB. Paróquia do Montijo, Registos de Óbitos, 1569-1610, f. 272r

[2] COSTA, padre António Carvalho da. Corografia Portugueza. Tomo Terceiro. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1712, p. 324.

[3] ANTT. Ministério das Finanças. Convento de Nossa Senhora da Graça. Inventário da Extinção do Convento de Nossa Senhora da Graça de Lisboa, cx. 2227, f. 47v.

[4] Idem. Ibidem, f. 17r-17v.

[5] Vieira, Fr. Domingos. Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho em Portugal (1256-1834). Lisboa: Universidade Católica Portuguesa, 2011, p. 152.

[6] Ver: Arquivo Municipal do Montijo. Câmara Municipal do Montijo. Descrição Geral dos Bens Próprios do Município de Aldegalega do Ribatejo, 1871 /1872.

 

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