Celebrar o 25 de abril é celebrar o Portugal moderno, livre, democrático, aberto à Europa e ao mundo.
Ao longo destas quase 5 décadas, Portugal mudou e mudou para melhor, mas a sua maior conquista é, sem dúvida, a liberdade.
A liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, a liberdade de reunião, a liberdade de pensar, a liberdade de criticar, a liberdade de votar numa democracia plural ou a liberdade para cada um poder defender a ideologia que quiser, desde que esta não promova o ódio ou procure a supressão de direitos básicos dos outros seres humanos.
Todas estas liberdades de que gozamos em Portugal, sem muitas vezes nos darmos conta de que somos uma minoria neste mundo de quase oito mil milhões de pessoas.
Todas estas Liberdades, que não eram inevitáveis, que foram construídas no pós-25 de abril e que muitas vezes damos como adquiridas e imutáveis, quando a história está repleta de exemplos que nos dizem o contrário.
E o tempo que vivemos é, por isso mesmo, absolutamente desafiante.
O modelo do pós-segunda-guerra mundial, assente na moderação, na democracia, na liberdade e na proteção social, foi capaz de garantir a paz e níveis de prosperidade inigualáveis na história da humanidade.
Mais recentemente, o aprofundar da globalização, que contribuiu para retirar milhões de pessoas da pobreza nos países mais pobres do mundo, demonstrou-se incapaz de corresponder às espectativas da generalidade das classes médias dos países tradicionalmente considerados do primeiro mundo, agudizando as desigualdades dentro das suas sociedades.
Em paralelo, o vírus do populismo vai crescendo e minando a confiança dos povos nas instituições. A polarização aumenta, criando sistemas de incomunicabilidade e de intolerância.
“Mudar o sistema” tornou-se um mantra de quem vende a ilusão de soluções fáceis para problemas complexos, procurando tomar o poder através do voto, aproveitando os sentimentos mais básicos dos homens, os seus medos, as fraquezas, as dúvidas perante o outro e as suas intenções.
É essa a estratégia, simples, daqueles que não acreditam na democracia, na liberdade enquanto base de uma sociedade bem-sucedida, na convivência pacifica entre nações e povos e que esperam ver as democracias do mundo a desagregarem-se por dentro.
A verdadeira liberdade só existe com a tolerância, com a empatia e com o respeito pelo próximo, independentemente da sua ascendência, género, etnia, língua, território de origem, religião, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
A intolerância e o ódio – a história demonstra-o – conduzem invariavelmente à guerra, à destruição e à morte.
Os próximos tempos, que serão marcados pela crise inflacionista, pela crise energética, pela crise climática, serão, não tenhamos dúvidas, aproveitados de forma desprezível pelos inimigos da democracia para obter ganhos políticos.
E, lembremo-nos, não há nenhum sistema político democrático que consiga ser perene se não for capaz de dar resposta às aspirações do seu povo.
Cabe, por isso, aos poderes públicos estar à altura do tempo que vivemos e não deixar que estas previsíveis crises se transformem em crises sociais.
Do estado central e das autarquias locais é esperado que não se limitem à mera visão burocrática dos seus mandatos, que não comprometam as contas certas, mas que assegurem também que os recursos existentes são colocados ao serviço da construção de uma forte rede de proteção social que, num tempo tão crítico, não deixe ninguém para trás.
Mas também que os efeitos da perda de poder de compra sejam mitigados e que um horizonte de esperança numa vida digna, plenamente realizada e de aspirações concretizadas seja possível na nossa comunidade.
Empenhemo-nos por isso em estar ao lado das aspirações desta imensa maioria que, com o poder do voto, nos escolheu como seus representantes, porque só dessa forma podemos proteger a democracia e honrar Abril.