Os maus resultados obtidos pelos alunos dos segundo, quinto e oitavo anos nas provas de aferição provocaram enorme discussão entre os defensores de aprender conteúdos pelos conteúdos, fazer exames e mais exames, tendo a avaliação como objetivo classificar os alunos, e os defensores de trabalhar competências, avaliar o processo de aprendizagem, tendo a avaliação como objetivo interpretar e se necessário corrigir, ou seja, uma avaliação contínua com função motivadora e reguladora do processo.
Os testes e exames tradicionais representam, isso mesmo, a tradição que vem de há séculos, e nada contribuem para melhorar as aprendizagens dos alunos numa perspetiva de formar cidadãos, vistos como atores, e não espetadores, do regime democrático. Alguns professores continuam a usar os testes como a base da avaliação, e se deixassem de os fazer teriam dificuldade em avaliar. Assim, é mesmo necessário promover a formação de professores, a qual deve ter por base a partilha de boas experiências e não teorias que pouco ou nada contribuem para melhorar as aprendizagens dos alunos. Claro que é necessário o professor dispor do tempo indispensável à formação.
Recentemente, li um artigo sobre educação num jornal nacional, onde se defende que os maus resultados das provas de aferição se devem às políticas educativas seguidas nos dois últimos anos, as quais são caracterizadas como laxistas. Ora, medidas em educação demoram anos a ter reflexos no desempenho dos alunos. O estado a que chegaram as aprendizagens, ou melhor, a falta de aprendizagens, deve-se, em primeiro lugar, às medidas tomadas há, pelo menos, cinco, seis, sete anos.
Uma das razões do insucesso é o fraco domínio da língua materna, o qual se reflete nas aprendizagens de quase todas as disciplinas. Os alunos devem aprender a ler de forma critica, escrever com fluidez e criatividade e devem apreender um método de trabalho. Este deve ser o principio do caminho: motivar para a leitura e a escrita, saber estudar. Vem a propósito recordar uma boa medida tomada há vários anos: o Plano Nacional de Leitura; vem a propósito recordar uma má medida tomadas há menos anos: o fim do Estudo Acompanhado e da Educação para a Cidadania. Numa das últimas escolas onde lecionei, os resultados em Português eram desastrosos. A escola decidiu organizar-se desde o pré-escolar ao nono ano, tendo em vista melhorar as competências de leitura e escrita. Cerca de cinco anos após o inicio desse trabalho, os alunos foram melhorando consideravelmente o seu desempenho; a escola alcançou o meio da tabela do ranking dos exames nacionais.
Atualmente cerca de duzentas e cinquenta escolas estão a implementar uma nova experiência. Sem deixar de se reconhecer a pertinência dessa experiência, não podemos ignorar que a mesma, ou qualquer outra, não terá grande credibilidade junto de muitos professores, pois as experiências sucedem-se à medida que muda o inquilino da Cinco de Outubro. Seria de promover um debate a nível nacional que envolvesse toda a sociedade, nomeadamente, professores, alunos, encarregados de educação, sindicatos, todos os partidos políticos, e definir-se, em largo consenso, as linhas mestras da educação para um período nunca inferior a dez anos, sem prejuízo de se ir fazendo a avaliação da evolução do processo numa perspetiva reguladora. Estas linhas mestras apenas poderiam ser alteradas por dois terços dos deputados da Assembleia da República.
Acrescente-se que nada nos move contra testes e exames, desde que os mesmos sejam vistos com uma função reguladora do processo e não como a razão de ser de toda a organização da escola.