Caro leitor, depois do artigo anterior (https://www.diario daregiao.pt/author/manuel-henrique-figueira/) sobre os recursos abandonados ou desaproveitados (terrenos, edifícios, outras instalações, etc.), alguns que nem os donos (Estado Central ou Autarquias) sabem que têm, vou falar de outro filão inexplorado [outra mina «enterrada» mas bem à vista de todos].
Ele resulta das quatro Revoluções Industriais que configuraram o mundo de hoje, em especial da última, a qual estamos a viver.
A partir de 1760, o desenvolvimento tecnológico e produtivo que resultou da máquina a vapor (a carvão, em vez do biocombustível como a madeira) e permitiu a passagem da produção artesanal à manufactura em larga escala (a qual, acompanhada do caminho-de-ferro, outro filho dessa revolução tecnológica) deu origem à I Revolução Industrial.
No período entre os finais do século XIX e da II Guerra Mundial, as indústrias química, do aço, petróleo e eléctrica deram origem à II Revolução Industrial.
A partir do pós-II Guerra Mundial, a III Revolução Industrial (também conhecida por Revolução Informacional) teve como marcos a ampliação das fontes de energia (com a nuclear) e a robótica (na montagem automóvel) e estendeu os seus efeitos à agricultura, pecuária, comércio e serviços.
Vivemos agora a IV Revolução Industrial, que resulta da convergência do Digital, da Física e da Biologia, com base em tecnologias como a Computação da nuvem, Internet das coisas, Big data, Blockchain, Inteligência artificial e a própria Biotecnologia.
Esta revolução tecnológica, que dura há 250 anos (e permite hoje a produção industrial em massa de todo o tipo de aparelhos e gadgets) e a sociedade de consumo (alargada, cada vez mais, à escala global) originaram problemas gravíssimos e de urgente solução para a sustentação ambiental.
Isto porque se seguiu o modelo da economia linear (retirar matérias-primas da natureza, transformá-las em produtos, produzir resíduos), o que pôs dois problemas: a crescente exaustão dos recursos naturais (gerados durante milénios); as quantidades incomensuráveis do lixo electrónico ou e-junk (devido à profusão, em especial, de gadgets, que rapidamente ficam obsoletos). E o panorama no futuro é negro: Ruediger Kuehr, responsável da ONU pelo Programa de Ciclos Sustentáveis, diz que, em 2021, se prevê 52,2 milhões de toneladas. E lamenta que hoje, globalmente, apenas se recolha e recicle 20% dos resíduos. Em Portugal cumprimos apenas 29% das metas de 50% para 2020.
Perguntará o leitor, o que tem isto que ver com as autarquias? Acho que tem pelo seguinte:
─ É uma queixa permanente dos autarcas a falta de recursos e a exigência de maior financiamento do Orçamento do Estado;
─ Os recursos financeiros das autarquias não devem vir apenas dos nossos impostos: ou do Orçamento do Estado ou dos impostos (e taxas) municipais;
─ As autarquias devem procurar outras fontes de financiamento (embora isso exija perspicácia, criatividade, inovação e conhecimentos técnicos, económicos e financeiros por parte dos autarcas);
─ As autarquias não se devem automarginalizar deste magno problema: a gestão e o aproveitamento destes resíduos/recursos (esta mina «enterrada» debaixo dos nossos olhos);
─ Há exemplos de gestão autárquica inovadora que transformou concelhos anquilosados (e ensombrados por concelhos vizinhos mais importantes) em concelhos modernos e dinâmicos (p. ex. Óbidos). Outros figuram no livro Success Full: Casos de sucesso nos Municípios Portugueses e são reconhecidos na União Europeia pelo sistema universal de recolha seletiva de resíduos porta a porta, superando as metas do país para 2020 (p. ex. Maia).
A «mineração urbana», além de grande oportunidade para reciclar estes resíduos (inserindo-nos na economia circular), é uma nova fonte de recursos financeiros. Por exemplo, a Coreia do Sul recicla 8 mil toneladas de gadgets, sendo autossuficiente em lítio, o novo ouro da era do automóvel eléctrico.
Os municípios da nossa região (alfobre do progressismo DOP ─ Denominação de Origem Protegida), do que esperam para fazerem algo em seu proveito e nosso também? É tempo de atitudes activas.