A afluência às urnas no passado domingo foi consideravelmente expressiva. A participação recuperou dados de há 15 anos e o Círculo Eleitoral de Setúbal acompanhou a adesão.
Nos vários atos eleitorais do passado mais recente foram múltiplos os apelos para que o exercício do dever de votar tivesse maior expressão. Este teve. Ainda bem. A Democracia revelou-se viva.
Portanto, só há que saudar os cidadãos que exerceram um direito que tanto sofrimento causou a muitos, no tempo lá atras, para que fosse realidade.
Esta participação é indissociável da passagem do 50º aniversário da Revolução que nos devolveu a liberdade e a esperança no futuro.
Se é assim com a participação, outras questões mais profundas levantam-se quanto ao resultado das escolhas.
Quando um Partido com as características do Chega obtém a adesão de um milhão de cidadãos, devem tocar alarmes.
Chegados aqui, anos depois do fenómeno noutros países, é necessário perceber as razões pelas quais um partido como o Chega alcançou o resultado que alcançou.
Essa análise tem e deve ser feita pelo PS, Partido estruturante da Democracia Portuguesa, e pelos demais Partidos que estiveram na génese do regime democrático.
Falharam as práticas que foram seguidas relativamente à ‘cerca sanitária’. Enganámo-nos e caímos naquele trivial erro de que “só acontece aos outros”.
Tínhamos exemplos por essa Europa fora que serviam de aviso. Desvalorizámos!
Este fenómeno não tem paralelismo com o do surgimento do PRD. Isto é outra coisa!
O leite foi derramado e o que há a fazer é vedar. Urgentemente. O combate é político, exige desconstrução do discurso fácil e ardilosamente lampeiro.
E há inevitavelmente de saber as razões objetivas que levam os cidadãos a votar num partido de extrema-direita.
Neste processo, que já se vai iniciar tarde, saber ouvir, ouvir de verdade, com inteira liberdade, é o ponto de partida. É essencial ao diálogo e ao suporte das decisões. É a atitude que entendo que o meu próprio Partido deve ter, com humildade.
Ao arrepio do que sucedeu noutros círculos eleitorais, o PS foi no círculo eleitoral de Setúbal o Partido que recolheu a maior percentagem de votos nos treze concelhos, ficando em todos eles em primeiro lugar, com uma percentagem global superior a 31%, a uma distância considerável do segundo partido mais votado, exatamente o Chega. É obviamente positivo no contexto, mas não reconforta em face das expetativas gerais, nomeadamente pelo muito e positivo trabalho desenvolvido em múltiplos aspetos a nível nacional.
Portanto, também a nós, por cá, em Setúbal, cabe uma ampla reflexão. Vai ser feita.
Até porque, como disse o Secretário Geral do PS, Pedro Nuno Santos, o “PS é o porto seguro para os portugueses” e, acrescento eu, tem de estar sempre preparado para agir em nome dos superiores interesses de Portugal. No dia 10 de março abriu-se um novo ciclo no PS que, a meu ver, não pode dispensar as questões prévias que aqui enunciei.