Não é de promessas que vos quero falar. Essas, como bem se sabe, leva-as o vento e o último mandato autárquico em Almada não contrariou o ditado popular: reabilitação urbana para realojamento social; programa de arrendamento inter-geracional; cartão +cultura; um concelho ciclável; requalificação do centro sul; criação de uma rede de parques gratuitos na periferia da cidade; requalificação do Cais do Ginjal; construção de um porto de abrigo na Trafaria, entre tantas outras propostas do programa eleitoral do PS de 2017 que não saíram do papel.
Uma em particular ganhou destaque nesta campanha: a extensão do Metro Sul do Tejo até à Costa de Caparica. É um investimento que vem com 13 anos de atraso, desde a inauguração (ela própria já atrasada) do metro de superfície na margem sul. Ao longo de muitos anos, partidos como o Bloco de Esquerda insistiram na conclusão deste projeto, chamando a atenção não apenas para a sua importância no direito à mobilidade dos cidadãos mas também para a emergência climática. Tirar carros da Costa era e será cada vez mais uma questão de sobrevivência ambiental.
Sabemos que um investimento desta natureza nunca poderia ser feito exclusivamente com recursos municipais, mas o tema entrou definitivamente na campanha autárquica quando a Presidente de Almada afirmou, numa entrevista ao DN, que: “Já tive a garantia de António Costa da extensão do metro até à Costa de Caparica.”
É uma afirmação insólita, que convém dissecar. O prolongamento do Metro Sul do Tejo sempre foi assumido por muitos governantes ao longo dos anos desde os tempos de Mário Lino. Recentemente voltou a ser referido na apresentação do Plano Nacional de Investimentos 2030, enquadrado na expansão da rede de transportes da Área Metropolitana de Lisboa.
Acontece que, ao contrário da expansão das redes de Metro de Lisboa e Porto, criação do metro ligeiro em Odivelas e de uma linha BRT (Bus Rapid Transit) na Boavista, o Metro Sul do Tejo não foi incluído nas candidaturas ao PRR. A decisão foi do PS, mas a notícia pareceu surpreender Inês de Medeiros.
É neste contexto que, a poucos dias do início da campanha eleitoral, a candidata do Partido Socialista a Almada afirma ter “garantias” de António Costa sobre a expansão do metro à Costa de Caparica. Num debate em que participamos, tive a oportunidade de lhe perguntar que garantias eram essas e de desafiar o Primeiro Ministro a confirmá-las, sob pena de o país ficar a saber que os investimentos estruturais se decidem entre camaradas na sede do Largo do Rato. A outra hipótese é António Costa ter decidido entrar na campanha de Almada com uma manobra de propaganda eleitoral.
As promessas já as conhecemos, basta ver o que aconteceu à prometida erradicação de carências habitacionais ou de utentes sem médico de família em poucos anos. Agora restam poucos dias para sabermos o que valem as garantias de António Costa.