Além da dignidade que deve presidir às comemorações do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, é natural que se evoquem trechos da nossa história de que nos orgulhamos.
Por exemplo, enfrentámos castelhanos e franceses e mantivemos a nossa independência, fizemo-nos ao mar em frágeis cascas de nozes e revelámos novos mundos ao mundo, levantámo-nos por outro povo, o de Timor, escancarámos as portas à liberdade no 25 de Abril.
Tudo isso é verdade e engrandece-nos. E que se faça o balanço da situação nacional e se apontem caminhos para o futuro. Os tristemente famosos cartazes que ofendiam o primeiro-ministro e dos quais os sindicatos do sector se demarcaram e criticaram, mancharam, em parte, a luta digna dos professores e as comemorações.
Em relação aos apupos ao ministro João Galamba, tem a ver com matéria que tem vindo a publico em sessões da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP, e com responsabilidades suas no Ministério que tutela a empresa e, portanto, no atribulado processo de gestão da mesma, que deve ser escrutinado.
Mas os inúmeros “casos e casinhos”, são ‘fait divers’. Acessório. Essencial é que o Governo se preocupe com a gestão correcta daquela grande empresa que deveria manter-se pública, e resolver a má situação em que se encontram milhões de portugueses, tantos deles, mesmo a trabalhar. E isso, não tem sido feito.
O historial, as potencialidades, as dificuldades da região, descritas pelo presidente da Comissão Organizadora das Cerimónias do 10 de Junho indicado pelo Presidente da República, o enólogo João Nicolau de Almeida, um filho da terra e seu profundo conhecedor, também foram a propósito.
De realçar a referência à falta de mão-de-obra para tratamento das vinhas que tão precioso néctar produzem: o vinho do Porto e de mesa. Portanto, este contraste de uma região tão rica, mas com falta de trabalhadores é que não a engrandece, nem ao país. Há falta de trabalhadores, tal como noutras regiões e, por exemplo, nas pescas, porque os ordenados são baixíssimos e muitos dos que lá trabalham emigram.
Vão para o estrangeiro, até para a mesma actividade, mas auferindo salários bem mais justos. Sobre o suposto discurso mais importante, o de Marcelo Rebelo de Sousa, referiu coisas importantes, evidentemente, que as assimetrias sociais e regionais têm de se esbater, que os investimentos públicos, e privados, nomeadamente os dinheiros do PRR, têm de ser bem criteriosos, que a saúde, o ensino, a assistência social, devem melhorar, tudo isso é verdade, mas quantas vezes já ouvimos isto?
É verdade que tudo isso não depende dele. Depende do executivo. E faz bem enunciá-lo. Mas o fundamental é que os sucessivos governos, incluindo, evidente e principalmente o actual, deixaram agravar todas essas situações, com destaque para o SNS.
Conclusão: quanto mais justo e desenvolvido Portugal estiver, mais lustro e dignidade terão as comemorações do seu dia. Cabe-nos a todos bater-nos por isso.