As ‘carolices’, ou os cartolas, era como chamavam as pessoas que se dedicavam, e ainda o fazem por amor às suas causas e ideais no desporto e na cultura, entre outros. Hoje são os voluntários, mas essas ‘carolices’ cada vez mais se vão rareando. Enfim, é o progresso. E é de reconhecer e de louvar essas obras, em que muitas delas não são devidamente compreendidas e apoiadas, mas é a sociedade que por vezes temos. Até quando?
Por exemplo, o GRUPIS (Grupo da Piscina de Setúbal), que por amor ao próximo com os associados deste movimento, tinha o objectivo da construção de uma piscina em Setúbal.
Eu, na minha adolescência, comecei a ensinar a nadar muita gente e ainda hoje, com os meus 94 anos, não me nego a tirar o “medo da água” e assim conseguirei a ensinar quem tiver este desejo “por carolice”.
O desactivado e abandonado Forte de Albarquel foi uma grande luta. E hoje, ainda bem, é um centro cultural aberto a vários eventos. Outro exemplo de ‘carolices’ é o dos clandestinos da limpeza da Praia de Albarquel, da Esquelha, Rainha e Comenda.
A escola de natação dos bancários de Setúbal e os muitos salvamentos nas praias. Estas ‘carolices’, e outras, deviam ser reconhecidas em vida e não depois, mas é o que temos.
O Manuel Custódio Pereira – conhecido por Manuel Barbeiro –, no Verão, pelas 7 horas da manhã, nas escadas na Doca do Naval Setubalense, ensinou muitas pessoas a nadar. Na Escola Primária Conde de Ferreira e os antigos alunos, fui o coordenador deste movimento desde o início até ao seu término. As operetas “A Leiteira de Entre Arroios” e a “Flor de Liz”, dos antigos alunos da Escola Industrial e Comercial “João Vaz”, do grande impulsionar e director da escola, o Engenheiro Medeiros, os convívios e a confraternização na escola, da comissão de ex-alunos, o Kaiseler, o Veludo e outro, que hoje é a Escola Secundária Sebastião da Gama.
De destacar António dos Santos, com uma valiosa obra do património do orfanato, de que ele é o grande lutador e impulsionar da comissão dos antigos alunos, mas é quase desconhecido da cidade.
O Eber dos Carmelitas, alguns anos nas estadias de retiro espiritual de quinze dias, nas instalações da Casa do Gaiato, na Serra da Arrábida (tempo cedido à Ordem do Carmo pelo Padre Acílio). Eu e outros fomos colaboradores nesses belíssimos dias de introspecção no Portinho da Arrábida.
E as ‘carolices’ e comissões que trabalharam para o Estádio do Vitória. Foi um grande exemplo, essa maravilhosa de obra de vitorianos, setubalenses e da cidade, a não esquecer. A célebre comissão da ginástica, que conseguiu construir alguns ginásios debaixo das arcadas das bancadas, que foi também uma óptima obra dos vitorianos.
Recentemente fui abordado por um amigo e colega, o Soares, de Viseu, que me deu a conhecer uma história. Quando chegou a Setúbal para ir trabalhar para o Banco de Portugal, na sua secretária tinha uma proposta para ser sócio do Vitória Futebol Clube e uma lista de assinaturas do Movimento GRUPIS. Eu assinei ambas. Fiquei muito contente de ter o privilégio de ser um dos muitos que assinaram a lista encabeçada pelo meu amigo e colega do BNU para a construção de uma piscina coberta em Setúbal.
Esta é uma das histórias que marcaram a minha vida. Nunca mais a poderei esquecer. Além destas e de outras ‘carolices’, ainda houve muitas mais, mas, de momento, são as que recordo. Outras ficam para outro capítulo.
E é bom passar este conhecimento aos mais jovens, fazendo relembrar a “juventude acumulada”, o que foram as ‘carolices’ e os cartolas, hoje os voluntários.
Viva Setúbal!