Arrábida

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8 Novembro 2017, Quarta-feira
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Provavelmente por razão hereditária paterna cedo o meu gosto pelas duas rodas motorizadas se manifestou. O resto foi só uma questão de tempo, isto é, de trabalho. Para quem vive do seu trabalho, comprar uma mota, por muito grande que seja o sonho, dá trabalho. É preciso prescindir de alguma coisa e trabalhar para pagar o luxo de ter uma grande companheira. No que me toca, não há viagem como a de mota, o vento na cara, os cheiros, as curvas e as melhores paisagens não têm como ser melhor vividas. Depois de muitos anos com moto, por opção própria, houve a travessia do deserto e não gozei o privilégio de ter uma duas rodas durante uma dezena de anos. Até que, há meia dúzia de anos, o refrescante oásis bafejou a minha vida pela mão de uma Harley Davidson (HD), verdadeira peça de arte com rodas e motor. Tudo isto parece manifestamente exagerado, mas quem tem moto sabe do que falo. Há pouco mais que um mês, com esta companheira que nunca me deixa ficar mal e não tem ciúmes, fui a um evento a Setúbal, à volta da apresentação dos modelos 2018 – tudo serve para andar de moto. Muito mais do que muitas HD, acreditem que um convívio de HDs tem um espirito verdadeiramente único – com ou sem tatuagens a coisa funciona mesmo. À volta de uma HD, a boa conversa, com tudo o que de bom tem associado, pode levar horas. Na hora do clássico passeio de grupo, a opção era, Arrábida ou Troia. Cerca de duas centenas para cada lado. A minha escolha foi Arrábida. Nestas coisas de Harley, a cabeça funciona de maneira diferente, é um espirito, às vezes, surpreendente. Escolhi a Arrábida porque na minha cabeça eram mais quilómetros de curvas e magníficas paisagens. Assim foi. Meus amigos, mesmo enlatados (de automóvel), vivam a Arrábida exaustivamente. Acreditem que andamos todos muito distraídos; apenas como exemplo e por comparação, Sintra, a justamente famosa Sintra, fica lá muito atrás.  Apesar deste contexto, entre o espirito HD e a soberba Arrábida, ainda tive um lampejo de “normalidade”:  como compatibilizar as minhas razões ecológicas com umas largas dezenas de Harleys a roncarem no Parque Natural? Foi a pergunta que em pleno Parque Natural da Arrábida se me colocou. Suspeito que não consigo justificar; afinal todos temos telhados de vidro, foi a minha consolação.

 

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PS – Durante o passeio fomos passando por largas dezenas de pessoas que tinham enormes sacos azuis. Nada mais nada menos que o Clube da Arrábida na sua 7ª acção anual de limpeza que quase atingiu as 8 toneladas. A compensação pela nossa malfeitoria afinal estava ali no próprio dia.

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