Apanha de bivalves no Estuário do Tejo, sim, mas com regras

Apanha de bivalves no Estuário do Tejo, sim, mas com regras

Apanha de bivalves no Estuário do Tejo, sim, mas com regras

31 Agosto 2021, Terça-feira
José Luís Ferreira

A apanha de bivalves no Estuário do Tejo representa um problema gravíssimo, que não sendo novo, continua a ganhar proporções muito preocupantes e que há muito reclama respostas.

Respostas aos problemas ambientais que esta atividade continua a potenciar nos ecossistemas e ao nível da biodiversidade, mas respostas também aos problemas sociais e laborais e ainda de saúde pública, que a apanha ilegal de bivalves esta a provocar, perante a passividade deste, e de outros governos.

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Segundo os estudos, em 2015 eram recolhidas entre 9 a 47 toneladas por dia, só de ameijoa-japónica e apenas na cala do Montijo e do Samouco.

São números, de facto, impressionantes, que nos dão uma dimensão aproximada da gravidade do problema. Ainda assim esta atividade continua sem ser regulamentada, com todas as consequências que daí decorrem e que se vão perpetuando no tempo, ao nível da sustentabilidade dos recursos marinhos, da biodiversidade e dos ecossistemas, mas também de outros problemas associados à forma como esta atividade se desenrola.

Referimo-nos por exemplo, às condições de habitabilidade de muitos desses apanhadores, da exploração laboral a que se encontram sujeitos, mas também do perigo que representa em termos de segurança alimentar, pelo facto desses bivalves chegarem à mesa do consumidor, literalmente contaminados.

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Como sabemos, a apanha de bivalves a montante da Ponte Vasco da Gama é proibida, devido à contaminação por chumbo, mas não há garantias que os bivalves não sejam aí recolhidos e que não acabem por entrar no mercado.

Por outro lado, a jusante da Ponte, a apanha é permitida, sucede que essa zona tem a classificação “C”, o que significa que os Bivalves podem ser apanhados, mas para serem colocados no mercado, têm de passar pelo tratamento industrial, porque estão contaminados com toxinas e metais pesados.

Ora, se o Governo não avança com a construção da infraestrutura no Barreiro, para além da venda ser ilegal, os Bivalves chegam à mesa do consumidor potencialmente contaminados.

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Face a este cenário, o que se exige do Governo é a construção no Barreiro da unidade de processamento de biovalor para serem desenvolvidas técnicas de processamento térmico e de alta pressão, bem como a valorização das conchas, mas também para garantir a segurança alimentar.

O que se reclama, é a elaboração de um plano da gestão de recursos, que estabeleça o universo de licenças a atribuir face aos recursos disponíveis e que regulamente toda a cadeia de comercialização.

O que se impõe é que o Governo canalize esforços, em conjunto com as respetivas Autarquias Locais, para as situações de habitação indigna, que se encontrem respostas públicas face às necessidades habitacionais e que identifique e combata as situações de abuso e exploração laboral.

O que se impõe é que o Governo proceda a um substancial reforço da fiscalização e que olhe para a necessidade de proceder à recuperação das espécies e habitats e mitigar ou eliminar o problema da contaminação das águas e sedimentos no Estuário do Tejo.

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