A descoordenação entre o Primeiro-Ministro e o Ministro das Infraestruturas e da Habitação sobre o futuro aeroporto revela a dificuldade do Governo em justificar perante o País a sua submissão aos interesses da ANA/Vinci que tem impedido que se ponha fim a um aeroporto no centro da cidade de Lisboa e que se avance para a única solução com futuro: a construção faseada de um Novo Aeroporto em Alcochete.

Embora já esteja revogado, ninguém acreditaria que se construíssem dois aeroportos um no Montijo, outro em Alcochete, como constava do despacho publicado em Diário da República, para além do que significaria de desperdício de verbas que poderiam e deveriam ser canalizadas para a construção faseada do Novo Aeroporto no Campo de Tiro em Alcochete.

Entretanto o Governo insiste que a decisão depende de um acordo entre PS e PSD. Parece que o Governo anda à procura do caminho para avançar com a opção do Montijo, cuja única beneficiada seria a ANA/Vinci.

O Governo fala da necessidade de um consenso sobre a solução para o futuro aeroporto. Recordo que o consenso existe. Há décadas foi tomada a decisão de saída do aeroporto da cidade de Lisboa e em 2008 foi decidido, na sequência dos estudos elaborados pelo LNEC, que a melhor localização para o futuro aeroporto era no Campo de Tiro em Alcochete.

Esta decisão só foi colocada em causa após a privatização da ANA. Desde então, a ANA/Vinci travou a construção do novo aeroporto em Alcochete. O que a ANA/Vinci pretende é continuar a explorar o aeroporto na cidade de Lisboa e construir um apeadeiro no Montijo. Sim, o aeroporto no Montijo, não será mais do que um apeadeiro e nunca corresponderá ao que o País precisa.

Nas audições do LNEC, da Ordem dos Engenheiros, da Ordem dos Economistas e da Plataforma Cívica Aeroporto BA6-Montijo Não!, realizadas na Assembleia da República por requerimento do PCP, a solução de construção faseada do novo aeroporto em Alcochete foi consensual. A opção do Montijo para além de ter impactos negativos no plano ambiental e da saúde pública, nomeadamente das populações que seriam afetadas no momento de aterragem e de descolagem dos aviões, é uma opção de curto prazo.

Não é isso que precisamos para a região e para o País. O dinheiro que está previsto para a opção do Montijo (o que implica uma construção de raiz, considerando que a pista terá de ser sobrelevada e exige a realização de aterro no Rio Tejo, pelo que, o que será aproveitado é só o espaço, nada mais), deve ser mobilizado para a construção faseada do aeroporto em Alcochete.

A solução no Campo de Tiro em Alcochete não tem os constrangimentos da opção do Montijo, permite a construção de uma infraestrutura aeroportuária em função das necessidades do País. Alcochete, é a solução que permite a construção de um HUB, dada a sua localização estratégia e a sua ligação aos países de língua oficial portuguesa, às comunidades, com ligações com África e a América, fundamental a TAP.

Estando demonstrado que Alcochete é a solução estratégica e a que garante uma perspetiva de futuro e de desenvolvimento, o que impede o Governo de avançar para a sua concretização? Nada! Nada impede a não ser falta de vontade política e o facto de o Governo não querer enfrentar os interesses da ANA/Vinci, prejudicando o povo, a região e o País.

Não avançar com a solução que dá resposta às necessidades do País é comprometer o futuro.