A história conta-se rapidamente. Na Assembleia Municipal do Barreiro do dia 30 de junho de 2022 o PSD apresentou uma recomendação intitulada “Alteração Toponímica da “Avenida das Nacionalizações” onde se escreveu que a manutenção do topónimo Avenida das Nacionalizações «não é oportuna e é suscetível de prejudicar os esforços de captação de investimento privado reprodutivo para o Barreiro».
A resposta? Fácil: «adotar um topónimo mais neutro, menos ideologicamente marcado e, logo, insuscetível de condicionar a plena prossecução dos interesses do Barreiro e dos barreirenses».
A recomendação seria reprovada com os votos contra da CDU e do BE, a favor do PSD e CHEGA e a abstenção do PS. Entretanto, dirigindo-se ao deputado do PSD que apresentara a recomendação, o Presidente da Câmara diria «entendo perfeitamente e estou concordante que a Avenida das Nacionalizações mude de nome (…) não o acompanho aqui porque não voto mas é o meu sentimento». Os bons espíritos sempre se encontram.
PSD e PS nunca deixaram de dar as mãos e preparar o terreno para as privatizações, deixando degradar serviços públicos e papagueando o “Estado-mau-gestor”, para poder vender a preços de saldo. PT, EDP, REN, CTT, CP, ANA, TAP, a dada altura, foram privatizadas e nunca houve limites para os tartufos, vendilhões e trapaceiros do bloco central das negociatas. Minto. No artigo 83.º da Constituição de 1976 estava escrito «todas as nacionalizações efectuadas depois de 25 de Abril de 1974 são conquistas irreversíveis das classes trabalhadoras». Nenhuma das revisões constitucionais lhes foi favorável e restava a memória. Até agora.
De volta ao Barreiro, o tempo passou e nem conseguimos imaginar as centenas de milhares de milhões de euros de investimento que deixaram de ser captados por causa da Avenida das Nacionalizações. A 11 de janeiro de 2024 entra em vigor o Regulamento Municipal de Toponímia e Numeração de Polícia onde é dito que «as designações toponímicas atuais devem manter-se, salvo por razões atendíveis, devidamente fundamentadas» (artigo 12.º).
Por isso, quando na reunião de Câmara do dia 5 de junho de 2024 se discutiu a renomeação da Avenida das Nacionalizações, seria expectável que estas fossem finalmente apresentadas. Só que não. Presidente e Vereadora responsável pela toponímia limitaram-se a dizer que a designação Avenida das Nacionalizações era má para o investimento. Porquê? Como? De que forma? Que evidências existem para sustentar esta ideia? Existe algum estudo onde, juntamente com as previsões do lucro e as expectativas de evolução do mercado, o perfil de escolarização dos empresários ou os custos intermédios, figure também a toponímia como factor relevante para o investimento? Se existe, apresentem-no! Era o mínimo. Mas o executivo PS move-se ao sabor de impulsos. Primários. Não é preciso analisar, compreender e explicar, basta achar.
Só existia uma Avenida das Nacionalizações no país, esta que acaba de se renomear. Não teria sido melhor preservar uma toponímia única? Não seria até motivo de celebração no cinquentenário de Abril? Pelos vistos não. Os corifeus de turno acham que Avenida das Nacionalizações é um mau nome para o negócio. Num certo universo mental mercantilizado, provinciano e medíocre, onde tudo tem um preço, tudo de se compra e tudo se vende, é assim e pronto. E foi. Já está.