A visita da rainha Isabel II a Portugal em 1957

A visita da rainha Isabel II a Portugal em 1957

A visita da rainha Isabel II a Portugal em 1957

13 Junho 2019, Quinta-feira
Francisco Cantanhede - Professor
Francisco Cantanhede – Professor

 

A atual rainha da Grã-Bretanha, Isabel II, subiu ao trono em 1952, com 25 anos de idade. Em 1957, sua alteza real e o marido, o duque de Edimburgo, visitaram Portugal. Nesta altura, enquanto a Europa rejuvenescia das cinzas da II Guerra Mundial, liderada por governos democráticos nos principais países, o «Estado Novo» envelhecia. O seu líder, Salazar, fazia ouvidos de mercador às críticas internacionais por pretender manter as colónias portuguesas. O chefe do Governo português estava, cada vez mais, «orgulhosamente só». Logo, a visita de uma jovem e conhecidíssima rainha a um país com apenas homens já de idade avançada a ocuparem os mais altos cargos da nação, não deixaria de trazer uma lufada de ar fresco ao regime. Portugal seria falado por todo o mundo graças à visita real.

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Os jornais portugueses rejubilaram com a visita, tendo-a acompanhado ao pormenor, por vezes, à beira da histeria. Cerca de quinze dias antes do acontecimento, já se relatavam os preparativos. No dia da chegada, o jornal português mais sóbrio, o «Diário de Lisboa», noticiava na primeira página a hora de partida do palácio de Buckingham, e o atraso de 6 minutos; largada do aeroporto com avanço de 4 minutos; entrada em Portugal e chegada ao Montijo à hora estabelecida. Estava salvaguardada a pontualidade britânica e enaltecida a importância da pacata localidade da margem sul do Tejo: «Logo pela manhã, a pequena península do Tejo, convertida num dos maiores campos de aterragem do mundo, se animou. É que nem todos os dias desce ali uma princesa. Elizabete de Inglaterra é a primeira.» A visita da comitiva real a Setúbal mereceu igualmente honras de primeira página do mesmo jornal. Destacou-se que a passagem de sua majestade pela cidade do Sado aconteceu antes da sua entrada solene em Lisboa. O título da notícia é bem elucidativo do agrado dos ilustres visitantes: «Até com o nome do seu castelo, Setúbal quis ser amável comigo- declarou o duque de Edimburgo ao deparar esta manhã com a fortaleza de S. Filipe que domina o estuário do Sado.» Nos dias em que a rainha permaneceu em território português, os jornais destacaram os pormenores, tudo insignificante, mas tudo relatado com pompa e circunstância.

Dos assuntos de interesse para os dois países, os jornais apenas referiram a velha aliança. Desconhece- se se Isabel II terá questionado Salazar sobre o número de presos políticos e os métodos usados pela sua PIDE, e se mostrou interesse em saber o significado do carimbo azul que aparecia na primeira página de todos os jornais portugueses. Certamente, o chefe do Governo português também não terá tentado informar-se se a rainha estaria ou não interessada em conhecer os descendentes da sua trisavó, a rainha Vitória, que viviam em Portugal. A mulher empreendedora da rígida moral vitoriana foi mãe de um filho ilegítimo quando tinha 15 anos de idade. A criança, chamada Marcos Manoel, foi escondida em Portugal.

Graças à visita de Isabel II, o mundo ficou a conhecer melhor Portugal, o jardim à beira mar plantado, onde vivia um povo feliz sem lágrimas, pois aqueles que as vertiam estavam nas prisões da PIDE, trabalhavam horas e horas nas fábricas e nos campos do nascer ao pôr do sol, e, obviamente, não mereceram o interesse nem da rainha nem dos jornais.

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