O Grupo CUF foi um enorme conglomerado português que desenvolveu a sua atividade empresarial ao longo de praticamente todo o século XX, tendo terminado com as nacionalizações concretizadas no Verão de 1975 e que conduziram ao desmantelamento do grupo empresarial.
A CUF esteve inicialmente localizada na zona do Calvário, em Lisboa, mas veio a ser profundamente transformada por Alfredo da Silva a partir de 1898 quando promoveu a fusão e liderou duas pequenas empresas existentes nessa zona, mais precisamente a CAF – Companhia Aliança Fabril e a CUF – Companhia União Fabril.
Consciente das limitações de espaço de crescimento e expansão existentes em Lisboa, bem como dos desafios industriais para Portugal que já nessa época perspetivava, Alfredo da Silva tomou a decisão de instalar no Barreiro um conjunto de indústrias, tendo em conta as enormes vantagens competitivas que dessa localização poderiam resultar.
O espírito profundamente humanista de Alfredo da Silva levou-o a fazer um forte investimento numa política social empresarial exemplar. Numa época em que os empresários pouco se preocupavam com estas questões, a obra social do Grupo CUF foi desenvolvida em benefício dos milhares de trabalhadores do Grupo e suas famílias, mas também da comunidade e meio envolvente.
A propósito das comemorações dos 150 do nascimento de Alfredo da Silva, no ano de 2021, a Fundação Amélia da Silva de Mello, a qual tem o nome da sua única filha, resolveu promover uma iniciativa de ampla magnitude num binómio envolvendo a realização de conferências temáticas e o concomitante lançamento de projetos de investigação científica que versassem as mesmas matérias apresentadas nesses eventos.
Assim, a Fundação Amélia da Silva de Mello organizou, em conjunto com a Faculdade de Ciências Humanas, da Universidade Católica Portuguesa, uma conferência sob o tema “Política Social Empresarial”, procurando também olhar para o exemplo da CUF, bem como conhecer e apresentar o que é atualmente praticado nas empresas que lhe sucederam nos dias de hoje. Decorreu no dia 4 de junho de 2021, na biblioteca da Escola Alfredo da Silva, na cidade do Barreiro.
Relacionada com os estudos desenvolvidos, resultou uma obra que tem o título de “A Política Social da CUF (1906 – 1975)”, da autoria de uma equipa, sob liderança do Professor Francisco Branco, coordenador do grupo de investigação sobre as Políticas de Interesse Público e Desenvolvimento Humano do Centro de Estudos da Universidade Católica Portuguesa.
A génese e o impacto desta política social empresarial, que se estendeu aos domínios da educação e formação profissional, da previdência e assistência social, da habitação, da saúde e da cultura, lazer e desporto, são o foco desta obra.
Nela se abordam e analisam os motivos que terão impulsionado a adoção desta política, o seu pioneirismo e inovação à luz do percurso da política social em Portugal e de outros grupos nacionais e multinacionais, bem como a sua relevância para a sustentabilidade social e económica dos locais onde o Grupo CUF se implantou, com particular destaque para o Barreiro.
É unanimemente reconhecido que no Barreiro se encontra o melhor exemplo da concretização, no século XX, do que hoje chamamos de Responsabilidade Social Corporativa.
A CUF veio a implementar, sob a liderança de Alfredo da Silva e de todos os que lhe sucederam, um forte programa de apoio aos seus empregados, reveladora de uma dimensão social inexistente em Portugal. Assim, logo em 1906, fez aprovar a construção de uma Escola Operária, uma Farmácia, um Posto de Socorros Médicos, uma Despensa e lançando a Caixa Económica para auxílio aos operários da companhia. Esta opções já vinham de trás, pois era hábito que no Natal procedesse à entrega de gratificações pelo pessoal dos escritórios e das fábricas, tarefa que cumpria e fazia cumprir de modo individual.
Posteriormente à data atrás referida, o forte crescimento do Grupo CUF, aliados a uma vontade de reforçar o apoio social aos seus empregados, permitiu que fossem sendo progressivamente alargados esse tipo de apoios, merecendo salientar 4 temas sobre situações específicas e de que todos certamente nos orgulhamos.
O primeiro, relativo à Habitação, com a construção de bairros destinados aos colaboradores da empresa, inicialmente relativamente perto das instalações fabris e mais tarde assumindo uma ambição enorme que se concretizou no chamado “Bairro Novo”, com centenas de fogos e no “Bairro dos Engenheiros” que permitiram dar muito boas condições de vida aos colaboradores da CUF.
O segundo, numa categoria que se engloba no Bem-estar social e vivência diária das pessoas e que, por um lado, está ligado ao abastecimento de géneros a preço de custo de todo o tipo que a “Despensa” disponibilizava ou a criação de condições para o Desporto. Fez também sentido o surgimento dos campos de férias, inicialmente na Caparica e mais tarde em Almoçageme, Sintra.
O terceiro aspeto, talvez o que mais notoriedade adquiriu, é a que diz respeito à área da Saúde. Criou-se um Posto Médico dotado de boas condições e, em 1941, Alfredo da Silva decide criar o Hospital da CUF que iria prestar serviços médicos aos seus empregados a partir de junho de 1945.
A quarta e última nota diz respeito à Educação e à importância que todos os que lhe sucederam na CUF lhe atribuíram. O modelo de desenvolvimento da CUF, aliou a modernização tecnológica ao recrutamento de Pessoas baseado na competência técnica e promovendo a melhoria das instalações fossem elas fabris ou de outra natureza. Merece destaque o apoio às escolas públicas, de que é um magnífico exemplo a ligação à Escola Comercial e Industrial Alfredo da Silva, localizada no Barreiro.
Atualmente, num mundo muito diferente de um ponto de vista industrial, com outras dimensões económicas e empresariais a que o País assistiu nas últimas décadas, a responsabilidade passa por cada um olhar para o futuro e perceber aquilo que faça sentido na chamada Responsabilidade Social das Empresas.