Andamos há anos a perguntar “quem é que tem um rio azul como o meu?” E ninguém tem. Como nos orgulha e é importante termos uma das baías mais belas do mundo. Tantos e tantos consensos porque queremos uma cidade de Setúbal voltada para o rio.
E agora, alguém quer construir uma marina que é um mamarracho, e vai bloquear 1 quilometro de frente de mar com 90 metros de largo. Onde? Entre a Docapesca e o Cais das Fontainhas, precisamente onde é mais próxima a ligação entre a cidade e o rio. Mas precisamos mesmo duma nova marina em Setúbal? Tenho algumas dúvidas!
O que nós precisamos é duma visão estratégica duma cidade de Setúbal voltada para o rio Sado. E de alguém com essa capacidade e vontade de a implementar. O que nós precisamos é de construir uma grande avenida pedonal, (passeio marítimo) que ligue o Cais das Fontainhas à praia de Albarquel. Para já, é trabalhar na resolução dos troços de ligação: RNES/Pilotos, Naval/Docapesca, Praia da Saúde e ligação PUA a Albarquel.
Será que, com alguns ajustes em função duma maior procura e melhoria das condições de segurança, o que já existe de marinas não é suficiente? Apesar de muitas dúvidas, vamos aceitar (?) o pressuposto de que Setúbal precisa mesmo duma nova marina. Vamos aceitar, o cenário de termos permanentemente 7533 embarcações a apitar para ter lugar em Setúbal; os inscritos de cá e os que nos querem visitar. E dentro de alguns anos irão ser 8742, segundo os estudos do promotor. E a abarrotar de dólares e euros, ansiosos por se aliviarem aqui em Setúbal.
O cenário parece-nos uma patetice, mas vamos trabalhar com ele e saber então; Onde? Quando? E como vamos construir essa marina? Se analisarmos algumas das condicionantes, verificamos que a localização proposta é absurda. E porquê? Simplesmente porque não é um bom sítio para colocar uma marina.
Retirar a frente ribeirinha da cidade, bloqueando a vista e o acesso ao rio é uma decisão pouco avisada. A frente de mar desde o Cais das Fontainhas até a Praia de Albarquel deve ser protegida e considerada de vocação especial.
E também porque uma marina aqui implica custos extraordinários:
– Na construção dos quebra-mar devido a profundidade naqueles sectores do rio.
– Na resolução do canal de drenagem da Ribeira do Livramento.
– Porque colide com a zona de manobra dos navios para o Porto Setúbal
– Porque obriga a alargar o canal navegável do Sado o que implica mais dragagens. Dragar o fundo do rio não pode ser encarado com esta leviandade. Mais dragagens implicam outros projectos e outras avaliações ambientais, que não estão aqui contempladas.
E se há tanta certeza na necessidades duma marina, então proponho que se avalie outras localizações e se dimensionem de forma minimizar os impactos ambientais e visuais. Para o mesmo cenário de procura, ou seja, para o mesmo nº de embarcações, sugiro 3 marinas mais pequenas e complementares entre si:
Marina I
Frente ao Parque de campismo do Outão até à pequena enseada da Rasca – poderia ser mais vocacionada para as embarcações não registadas em Setúbal e de maior dimensão.
Marina II
Zona do Cais das Fontainhas com expansão futura, que “empurre” o porto para montante (Nascente). Poder-se-ia aproveitar as instalações em terra e acrescentar esta valência à marina, assim como instalar uma grua para alagem de embarcações
Marina III
Em Tróia na zona do cais dos Ferrys – vocacionada para o Circuito de Turismo Tróia/Comporta Melides. É noutro concelho, mas na mesma região. Desde quando a cooperação entre dois municípios não é uma boa forma para encontrar a melhor solução que sirva a todos. Principalmente quando estamos a contar com uma boa parte de clientes que vão para o concelho vizinho.
Rejeitamos então esta enorme poita na frente ribeirinha de Setúbal. Principalmente porque não há necessidade de a construir ali.